Sangue, suor e lágrimas em Barcelos. Apuramento dramático do Gil Vicente para a final da Taça da Liga. História escrita com o pé direito de Júnior Caiçara, em dois atos. Golo milagroso a um minuto do fim. Penalty decisivo convertido. Pelo meio, guarda-redes em destaque. Mal Quim, heróico Adriano, que parou os penalties de Hélder Barbosa e Ukra. Gil na final. Inédito. Barcelos tem nova noite de festa, nem um ano depois do regresso aos grandes palcos.

Não foi fácil encontrar o adversário do Benfica, mas o Gil acreditou sempre, diga-se. Tinha pela frente o jogo mais importante da história do clube e mostrou crença em escrevê-la com letras douradas. Muita fé, muito pulmão. Não foi um novo rico, espantado com a presença em jogo tão importante. Foi um operário ciente da possibilidade que tinha à frente. Tentou agarrá-la com unhas e dentes. Mereceu os penalties, mesmo que tenha falhado qualquer coisa, sobretudo na parte final da primeira metade. Mereceu a festa.

Antes, alguns erros. Faltou por exemplo, controlar um Sp. Braga que trazia um embalo impressionante e uma confiança única num clube que teve um crescimento sem paralelo em Portugal, nos últimos anos. Faltam títulos a este Braga. A Taça da Liga já não será um deles.

Tal como tinha feito no jogo do campeonato, não há muito tempo, o Sp. Braga não escondeu o respeito pelo grupo de Paulo Alves. Até porque, esta noite, levou um sério aviso ainda no primeiro quarto de hora, com o golo de Hugo Vieira.

Brilhante o passe de César Peixoto, perfeita a finalização do avançado gilista, um segundo depois de ter dado a sensação de ter o lance perdido. Gil na frente. Provavelmente, foi o melhor que podia ter acontecido ao jogo, que tinha de abrir necessariamente.

O Sp. Braga viu-se obrigado a redobrar esforços. A estratégia de contenção, que tão bons resultados deu no campeonato, teria de ser alterada. O jogo pedia mais Braga. O Gil tinha de saber responder.

Adriano ainda segurou um livre venenoso de Hugo Viana, mas nada pôde fazer quando Mossoró abriu o livro. O brasileiro fez o que quis da defensiva gilista e assistiu Lima para o empate. Entrada de rompante ao primeiro poste, a fazer o 1-1. Voltava tudo ao início, com uma diferença: mais capital de confiança para o Sp. Braga. Ainda mais, sublinhe-se.

Cinco minutos depois, a fé arsenalista traduziu-se em novo golo, num lance de azar para Halisson, que escorregou na pior altura. Lima ainda perdoou. Hélder Barbosa não foi em benesses.

Mas quem antevia o fim do Gil Vicente, enganou-se. É verdade que a equipa barcelense demorou a assentar o jogo e pareceu algo atarantada com a recuperação supersónica do rival. Mas o intervalo fez-lhe bem.

Já com Zé Luís no lugar de Luís Carlos, seria mesmo o cabo-verdiano a dar o primeiro aviso, num cabeceamento que saiu pouco por cima. O Sp. Braga passaria a jogar em contra-ataque e, primeiro Paulo César, depois Lima, que não enganou Adriano em dois lances seguidos, poderiam ter dado o golpe final nas aspirações gilistas.

O Gil sobreviveu e manteve a crença que trouxe a equipa até este jogo. Ameaçou marcar quase sem rematar. Não é fácil. Mas acontece, sobretudo em jogos de resultado tangencial. E, por isso, ninguém estava descansado. O golo gilista, a um minuto do fim, veio dar razão ao que se disse.

O apuramento do Sp. Braga escapava entre as mãos de Quim, tão tenrinhas para um remate de Júnior Caiçara, que foi colocado e nada mais. Golo. Empate. Justo? A fé tem destas coisas e, por isso,não se discute. Mérito para quem acreditou.

Depois, Caiçara voltou a colocar o seu nome na história do Gil Vicente, com o golo no penalty decisivo. Adriano parou dois. Quim não defendeu nenhum. O Minho já sabia que estaria representado na final. Mas não seriam muitos a apostar que era com as cores do Gil Vicente.