Enquanto se dissecavam os pormenores da votação que deu a Cristiano Ronaldo a segunda Bola de Ouro da carreira – e a primeira sob a égide da FIFA – passava relativamente despercebida o resultado final da parceria entre a FIFPro e a FIFA para a escolha do melhor onze do ano.

Numa lista com cinco estreantes e seis clientes habituais não houve, como já vem sendo habitual, espaço para qualquer representante da Premier League. Sinal dos tempos: pela primeira vez em nove anos, a Bundesliga (ou melhor, o Bayern de Munique...) conseguiu incluir três representantes na lista dos melhores jogadores da Europa. Neuer, Thiago Silva, Lahm, Ribéry e Ibrahimovic são as novidades na equipa deste ano, que tem Cristiano Ronaldo e Messi nas suas fileiras, como acontece de há sete edições a esta parte.

O onze mundial de 2013 (FIFPro/FIFA)




A FIFpro ainda não divulgou o total de votos, mas no seu site refere uma participação recorde de dezenas de milhar, provenientes de 68 países. Promovida como aberta à participação de 65 mil profissionais, a eleição para o onze anual, promovido pela Federação que reúne os órgãos de classe dos futebolistas profissionais habituou-nos desde 2005 a ser foco de polémicas e discussões. Algo que se acentuou a partir da parceria com a FIFA, em 2009/10. As escolhas deste ano, não escaparam à regra. Eis as principais conclusões e curiosidades do onze ideal de 2013 para a FIFPro/FIFA.

Que viva España, outra vez
2013 foi o ano em que o Bayern conquistou todos os troféus internacionais em que participou e em que o Barcelona, melhor equipa da Liga espanhola, foi atropelado pelos bávaros na meia-final da Champions, antes da primeira final entre duas equipas alemãs. Mas ninguém diria, já que 19 dos 55 nomeados e seis dos onze escolhidos este ano atuam em Espanha (quatro no Barça e dois no Real Madrid). Ainda assim, um pouco menos do que nos anos anteriores: em 2012 foram 11 em 11, um ano antes tinham sido nove. Ao todo, das 99 nomeações de 2005 para cá, 58 vieram da Liga espanhola, e 56 de jogadores do Real ou do Barcelona. Horizontes um pouco limitados, não?

Olha, também se joga na Alemanha...
Por incrível que pareça, até às escolhas de Neuer, Lahm e Ribéry, nesta edição, de 2005 para cá nenhum jogador a atuar na Bundesliga tinha justificado a escolha dos seus companheiros de profissão. Os dois internacionais do Bayern são mesmo os primeiros alemães a ganhar um lugar na lista final, reforçando a ideia de que, um pouco à imagem do que acontece na Bola de Ouro, desde a fusão com a FIFA, o evento reflete tanto ou mais a popularidade e mediatismo do que o desempenho desportivo ao longo do ano. Talvez isso ajude a explicar a opção por Dani Alves em vez de Alaba, Sergio Ramos em detrimento de Hummels ou Xavi em vez de Schweinsteiger, por exemplo.

Premier quê?
Nos últimos quatro anos os jogadores que atuam em clubes ingleses foram quase completamente ignorados: das 44 nomeações, de 2010 para cá, só em 2011 houve espaço para encaixar dois nomes do Manchester United, Vidic e Rooney. Este ano os representantes do campeonato inglês – com destaque para Van Persie, Touré e Kompany – voltaram a ficar de fora das escolhas finais, abrindo vagas, pela primeira vez, para representantes da Ligue 1, os jogadores do PSG Thiago Silva e Ibrahimovic.

Defender é sobrevalorizado
É prática corrente nestas votações para onzes ideais, mas talvez por ser feita entre profissionais do ofício se esperasse um pouco mais de apreço por jogadores defensivos. Nada feito: desde que Makelelé foi escolhido em 2005, nunca mais houve espaço para médios de combate, como Busquets, Ramires, Khedira, Matuidi, Javi Martinez, Touré ou Gundogan. Este ano, a recuperação de bola volta a ficar a cargo de Xavi e Iniesta e, para abrir mais vagas na frente, Ribéry - que atua na posição de Cristiano Ronaldo - foi promovido a médio, tal como o seu colega de equipa Arjen Robben.

Europa, Europa
Dois brasileiros e um argentino encaixam no onze ideal, um número que reflecte a proporção de nomeados não europeus na lista submetida a votação (quinze em 55). Mas, para não variar, apenas um jogador que atuou parte da época fora da Europa (Neymar, pois claro, antes de rumar a Barcelona) teve direito a entrar nos nomeados. O predomínio das Ligas europeias na hierarquia internacional não se discute, mas, ainda assim, para uma votação supostamente global, os resultados do World XI são implacáveis: nunca um jogador a atuar fora dos big five da Europa (Espanha, Inglaterra, Itália e, só a partir deste ano, Alemanha e França) conseguiu entrar na lista.

Todos os premiados da FIFpro, de 2005 para cá

Guarda-Redes: Casillas (5 vezes), Buffon (2), Dida, Neuer
Defesas: Terry (5), Dani Alves (4), Sergio Ramos (4), Puyol (3), Piqué (3), Nesta (2), Cannavaro (2), Vidic (2), Maldini, Thuram, Zambrotta, Ferdinand, Cafu, Evra, Maicon, Lúcio, Marcelo, Lahm, Thiago Silva
Médios: Xavi (6), Iniesta (5), Ronaldinho (3), Kaká (3), Gerrard (3), Zidane (2), Xabi Alonso (2), Makelele, Lampard, Pirlo, Sneijder, Ribéry
Avançados: Cristiano Ronaldo (7), Messi (7), Torres (2), Etoo (2), Shevchenko, Henry, Drogba, Villa, Rooney, Falcao, Ibrahimovic

Representantes por Liga*
Espanha, 58
Inglaterra, 22
Itália, 18
Alemanha, 3
França, 2

* Total superior a 99 porque alguns jogadores jogaram em duas Ligas no ano em causa.

Representantes por clube
Barcelona, 36
Real Madrid, 21
Milan, 10
Chelsea e Man. United, 8
Juventus e Liverpool, 5
Inter e Bayern Munique, 3
PSG, 2
Arsenal, At. Madrid, Valencia, 1

* Total superior a 99 porque alguns jogadores jogaram em dois clubes no ano em causa.

Nomeações por nacionalidade
Espanha, 31
Brasil, 16
Inglaterra, 11
Itália, 9
Argentina, França e Portugal, 7
Alemanha, Camarões, Sérvia 2
Colômbia, Costa do Marfim, Holanda, Suécia e Ucrânia, 1.