Quando as coisas não correm bem, não correm mesmo bem. O Vitória tem percorrido toda a época com esse pensamento intricado no seu espírito e já começa a ser algo físico, pelo que a equipa não se consegue libertar da aflição de estar em lugares de descida. No regresso ao Estádio D. Afonso Henriques, após a interdição que o levou até à Maia, o Guimarães contou com o apoio que tanto necessitava, mas voltou a falhar, cedendo uma derrota muito dura perante o Gil Vicente.

Com o coração nas mãos, a formação orientada por Jorge Jesus encontrou um adversário muito matreiro, com a lição bem estudada e utilizando, por vezes, o anti-jogo para segurar a vantagem e partir para uma vitória que o afasta, praticamente, dos lugares de descida. O Gil Vicente de Luís Campos está mais tranquilo e com toda a justiça, pois soube encontrar o rumo certo. Tem apostado em sistemas consistentes, virados para a objectividade e os resultados, sem qualquer pingo de intranquilidade, à imagem do que tem acontecido nas últimas épocas.

Para o Vitória tudo é bem diferente. A constante convulsão vivida no clube é indisfarçável e não pode estar só na equipa. É algo que vem de cima e se alastra a todos os poros do sentimento vitoriano, chegando mesmo aos adeptos, que não desistem de apoiar os jogadores quando é necessário, mas também são os primeiros a criticar sempre que algo corre mal. O plantel não é dos piores na Superliga, muito pelo contrário, mas os treinadores não têm sabido encontrar saídas. Foi assim com Augusto Inácio e o mesmo acontece com Jorge Jesus, claramente uma péssima aposta de Pimenta Machado. Há tão pouco tempo em Guimarães, o treinador já ouve assobios e vislumbra muitos lenços brancos nas bancadas.

Yuri alcança vitória

Perante mais de quinze mil pessoas, o Vitória acusou a pressão e deixou-se levar pelos maus sentimentos. Rubens Júnior quase conseguiu marcar logo aos quatro minutos, mas Yuri fez o 0-1 aos 17, aproveitando uma enorme falha de Fangueiro a meio-campo. A partir daí a intranquilidade dos da casa entrou num crescendo alucinante, terminando na enorme desilusão trazida pelo mesmo Yuri, que fez o segundo quando faltavam segundos para os 90.

Pelo meio, apenas muito coração e pouca razão. Jorge Jesus apostou tudo no ataque, mas Vinicius, João Tomás e Nuno Assis não conseguiram bater Paulo Jorge. O guarda-redes gilista nem teve de efectuar uma grande exibição, apenas cumprir, pois a maior parte dos remates nem sequer foram direccionados à baliza. Logo no início da segunda parte, quando a desvantagem ainda só era de um golo, Ferreira II foi expulso (merecidamente, pois exagerou nas simulações, o que já é um mau hábito próprio), mas, nem aí, o Vitória aproveitou a oportunidade. Ao invés, voltou a revelar inconstância, até porque Hugo Cunha também viu o segundo amarelo.

Entre erros defensivos e constantes ataques sem qualquer nexo, dava para adivinhar que Paulo Jorge não iria sofrer qualquer golo e o Gil Vicente poderia voltar a marcar num dos contra-ataques perigosos que foi lançando. Esse lance acabaria por chegar e com a todo o tempo de mundo, dado que Yuri e Ferreira I combinaram como quiseram na área adversária, aproveitando a passividade da defesa, e o primeiro marcou o 0-2. Desiludidos, os vitorianos começaram a abandonar o Estádio e os que ficaram dedicaram-se a assobiar a equipa, a invectivar Pimenta Machado e a dizer adeus a Jorge Jesus. Em Guimarães, a aflição vai continuar até à última jornada.