Achar que um tosco de dois metros resolve a equação. Talvez esteja aí o problema.

Como se a altura de Zlatan lhe valesse o recorde de golos de cabeça na Premier, ou a estampa física de Pogba ganhasse só por si todos os lances no meio-campo. E estes, senhores, têm bem mais argumentos.

Mourinho tinha cinco minutos pela frente, e decidiu-se. Pensou à-antiga. O alto belga, de negras e fartas sobrancelhas – e que deixaram entretanto de combinar com a prolífera permanente – cerradas para meter medo ao susto, garantiria, acreditemos, só por si, a magra vantagem adquirida em Goodison Park. Aquele remate que a trave devolvera para dentro, enrolado com o ressalto na relva, ainda castigava os toffees e teria de bastar.

Afinal, o que poderia correr mal? Fergie time é marca registada em Old Trafford, apesar de andar a acumular pó nos últimos tempos, e não pode ser usada impunemente por qualquer um. E Fellaini era garantia de força e… mais força. Sobretudo força. 

Claro que falar agora é fácil.

Um olhar por cima do ombro, para o banco, e havia o veloz Lingard. Também o mais técnico Mata. Um ou outro, e podiam ajudar a fazer um bypass à pressão e a segurar a bola naqueles minutos finais. Sobretudo o espanhol.

O Not So Special Anymore, they say, fez a sua escolha. Fellaini era uma espécie de ordem de restrição de aproximação curiosamente ao seu próprio ex, o Everton.

O belga não é, reconheçamos, brilhante com os pés, mas foi sobretudo a lentidão de pensamento que o traiu. Pensou tarde e chegou ainda mais tarde à bola dividida. Na área. Três minutos depois de entrar. Penálti, claro. O tosco cabeludo e lento de processos não passou despercebido, mesmo que nessa altura se tenha encolhido todo para não ter quase dois metros.

Se temos no banco um jogador de dois metros pomos esse jogador à frente da linha defensiva para ajudar a equipa a vencer o jogo.

Falar agora continua a ser mais fácil. Claro. Não digo que não.

Só que o que importa ou deveria importar não é o que Fellaini fez (ou não fez) em dois, três minutos em Liverpool. É o princípio. Achar que o físico se sobrepõe a tudo faz duvidar inclusive se Mourinho não terá parado no tempo. Na ideia de que um jogador de 100 milhões por muito bom que seja resolve todas as peças em falta no puzzle, e que quando não chega arranja-se para o seu lado um falso gémeo, separado à nascença, para levar à frente tudo o que mexa.   

Fellaini é um patinho feio com permanente, é verdade, mas é a ideia que o coloca em campo que já não fará tanto sentido.

De acordo com Mou, Fellaini faz-me perceber menos de bola. E ainda bem!

«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA» é um espaço de crónica, publicado de quinze em quinze dias na MFTOTAL. O autor usa a grafia pré-acordo ortográfico.