Cristiano, Messi e Neymar. Messi, Cristiano e Neymar. Cristiano ou Messi, depois Neymar. A ordem natural do que não é deste mundo, que é como quem diz «há três extraterrestres – ou dois, e mais um a caminho e já a atravessar a atmosfera, se quisermos sublinhar ainda as devidas distâncias – e os humanos, os mortais, aqueles de quem não se espera feitos grandiosos todas as semanas.

Neste combate eterno pelo domínio da Terra, o primeiro a saltar para a arena e a provocar a histeria da multidão é Dybala. Quando volta o silêncio, de expectativa, não há dúvidas de que carrega com orgulho a sua humanidade. Botas pretas. Armado até aos dentes com um pé esquerdo mortífero e uma sagacidade anormal, venenosa, ataca veloz para ferir de morte, e festeja de máscara, mão esquerda sobre a boca, e meio sorriso que destapa do canto dos lábios.

A esse gladiador de peito-feito chamam há muito la joya. Il gioiello!

Com a inocência de trazer vestida uma camisola do Boca, dez minutos e algumas pegadas depois de começar o miúdo de Laguna Larga já tinha convencido Santo Turza. Iria jogar pelo Instituto Córdoba, por quem se estrearia mais tarde, já sem o viejo que a tantos treinos o levara e por ele esperara no fim, falecido quando tinha apenas 15 anos.

Turza não tem por que se arrepender. Bate o recorde de Kempes, é o mais novo de sempre a marcar no segundo escalão, e cedo começa a ver o seu nome em destaque um pouco por todo o lado.

Herda do pai a humildade – a mesma humildade que leva a que recuse uma primeira oferta da Juve para que jogue com o 10 que fôra de Pogba – a dedicação e o compromisso, e chega já jóia à Sicília, assim continuando em Turim, com Bonucci a gritar-lhe lá de trás, perto de Buffon, a fazê-lo sorrir

Vamos, jóia! É para ganhar!

O outro rótulo, o de novo-Messi, arranca-o da malha com os dois golos que destroçam o Barça e o ídolo de sempre, na última Champions. Já o louco incontrolável do Zamparini, o mesmo que contratou e demitiu cinco equipas técnicas nesse primeiro ano em Itália, ninguém podia levar a sério. Chamava-lhe «o próximo Agüero» e nem é preciso dizer mais nada. Em Zamparini, a única coisa que faz sentido é a descida de divisão.

As pessoas têm de compreender que não sou Messi. Sou Dybala e só quero ser Dybala!

Os primeiros tempos no calcio não são fáceis. Alimenta-se mal, tem de fazer dieta e acabar com o vício que traz de Córdoba. Não há mais fernet para ninguém, seja aperitivo ou digestivo, ou apenas cheirinho para o café. São os mesmos italianos que tinham levado o hábito para as Pampas, criando uma bebida alcoólica a partir de várias ervas, que lhe roubam esse pequeno prazer. É para o seu bem. Foi.

Turim. Terminada a dupla brilhante com Franco Vásquez no 3x5x2 do Palermo, ao qual acrescentou 13 golos e dez assistências, entregam-lhe o 21 de Pirlo e também de Zidane. Tévez tinha saído, e encontra rapidamente o seu espaço. O golo na estreia garante a Supertaça e a confirmação de que tinha chegado para ficar, e que a partir dali não havia limite.

Admirador do encanto e da alegria com que Ronaldinho enchia a cancha e, ao mesmo tempo, do talento sério de Riquelme, Dybala encontra-se a si próprio precisamente no meio. Carrega feliz a responsabilidade do compatriota, que lhe pesava nos ombros e que lhe acrescentava um ar triste, ao mesmo tempo que se diverte e nos diverte a todos. Agora finalmente com o 10 que sempre lhe esteve destinado.

Não se esqueçam. O primeiro dos humanos chama-se Dybala, e os outros que se cuidem porque não está para brincadeiras!

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«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA» é um espaço de crónica, publicado de quinze em quinze dias na MFTOTAL. O autor usa grafia pré-acordo ortográfico.