Uma das melhores coisas de ser jornalista, pelo menos para mim, é poder escrever. Escrever frases cheias e palavras lindas: a língua portuguesa está cheia delas. Nobre. Genuíno. Apaixonado. Generoso. Palavras gordas e que nos engordam de ternura.

Nenhuma palavra, porém, chega aos calcanhares da beleza de um "sim".

Sim é a palavra mais construtiva, mais otimista e mais vibrante que existe. Na língua portuguesa, na língua inglesa, na língua francesa ou, imagino, na língua chinesa.

Sim, vamos. Sim, acredito. Sim, podemos. Sim, vale a pena. Sim, sim, sim.

Sim, é isso tudo.

Pode correr mal, ou até não valer a pena, mas que raio, pelo menos fomos: e a viagem costuma ser geralmente divertida.

O não, por outro lado, é tudo ao contrário: a vida virada do avesso. Um não costuma ser o único argumento dos incapazes, dos inseguros e dos fracos. É uma derrota à partida. É um produto tóxico, uma erva daninha é um quisto maligno. É um cancro.

É preciso muita coragem para lutar contra a negatividade de um não.

Imagino a determinação que, por exemplo, Tiago Pinto foi obrigado a ter para enfrentar o ceticismo que o perseguia: a cultura do não. Não és como o teu pai. Não tens o talento do teu pai. Não insistas. Não vale a pena.

Afinal de contas Tiago Pinto ambicionou ser feliz a fazer o que o pai fez com enorme virtuosismo. Provavelmente só quis seguir o caminho dele e divertir-se, mas o mundo adora boas histórias e o país exigia-lhe uma fábula de encantar: a genialidade herdada através do código genético.

É difícil resistir a comparações.

Comparar é ver o mundo por oposição: dividido em dois blocos. Isto e aquilo. Este como aquele. Enfim, chega a ser magnético.

Imagino por isso como devia pesar a sombra de João Pinto sobre os ombros de Tiago Pinto. As comparações que se faziam. Olhar para um, querer ver o talento do outro e no fim dizer não: não dá, não é igual, não vale a pena.

Mas Tiago Pinto fez o caminho dele.

Andou para a frente e para trás, passou por Sporting e Benfica, deu nas vistas no Rio Ave, saltou para o Sp. Braga e voltou ao Rio Ave. Com um peso enorme sobre as costas lutou e lutou. Insistiu, que é melhor do que não desistir porque não utiliza a palavra não no início da sentença, e insistiu um pouco mais.

Não aceitou um não por resposta.

O caminho deve ter sido longo, mas cresceu, cresceu e cresceu. Ganhou um lugar por direito próprio e afirmou-se no futebol português à custa do talento dele, e de muito trabalho, claro.

Quem o viu no Restelo a pegar na bola pouco depois do meio campo para fintar toda a gente e finalizar com classe na cara do guarda-redes não viu naquele momento de puro talento o filho de João Pinto: viu Tiago Pinto, um dos cinco melhores laterais esquerdos do futebol português. Um jogador de nome próprio.

Sim, Tiago, valeu a pena. 



Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui às sexta-feiras de quinze em quinze dias