A lei não obriga o Benfica a deixar entrar «o que quer que seja» no seu estádio. A informação é de Carlos Cardoso, presidente do Conselho para a Ética e Segurança no Desporto (CESD), e uma das entidades a quem o F.C. Porto denunciou o impedimento imposto pelos «encarnados» aos seus adeptos de levarem bandeiras e outros adereços para a Luz no clássico de domingo.

«Gostávamos que o espectáculo desportivo fosse uma festa. Os adereços fazem parte da festa, lamentamos que isto aconteça», começa por dizer Carlos Cardoso ao Maisfutebol, para depois defender que o organismo a que preside não pode actuar: «Não há nada na lei que obrigue o promotor a deixar entrar o que quer que seja. O que a lei 39/2009 prevê é a proibição de determinados objectos, por motivos de segurança.»

A lei em causa, que regulamenta a segurança em espectáculos desportivos, determina alguns deveres dos promotores, definindo, entre outras coisas, que deve «incentivar o espírito ético e desportivo dos seus adeptos», mas Carlos Cardoso diz que colocar a questão no plano ético «é mais complicado».

O CESD já recebeu de resto a denúncia do F.C. Porto e vai encaminhar o assunto para o Ministério da Administração Interna, responsável pelo policiamento no clássico: «Vamos comunicar ao MAI que isto se passa e alertar para que haja bom senso.»

«É uma questão para o MAI, para as forças policiais que estiverem presentes, para que haja bom senso da parte do Benfica», prossegue, admitindo de resto que, se a proibição do Benfica se estender à generalidade dos adeptos e não apenas às claques, a situação na Luz será muito confusa: «Acho que será o caos total. O bom senso tem que imperar.»

Claques não legalizadas: «Não está esquecido»



A troca de acusações entre F.C. Porto e Benfica prende-se também com a questão das claques legalizadas ou não. Os «encarnados» não têm claques «oficiais», argumento que esteve na base da recusa do F.C. Porto em deixar os grupos organizados entrar no Dragão com tarjas e outros objectos. Carlos Cardoso diz que é um problema complexo.

«Os clubes informam que não têm grupos organizados ou não apoiam grupos organizados, o que é feito é sensibilizá-los, não é só o Benfica, mas pouco mais pode ser feito», afirma o responsável pelo CESD, acrescentando que, se houver suspeitas de que esses grupos têm de alguma forma facilidades por parte do clube, há lugar a uma investigação. E diz que, no caso do Benfica, isso pode acontecer. «Sabemos que o MAI não esquece o caso», digamos.

Carlos Cardoso comentou ainda mais um caso de associação entre uma claque e actividades criminais, agora relativamente ao V. Guimarães. Sobre se estes casos não questionam a própria legitimidade das claques, a resposta do responsável:

«É por causa desses comportamentos que muitas vezes os clube não reconhecem grupos organizados, por causa das sanções que daí advêm. Continuo a pensar que as claques são importantes para o espectáculo. Agora, o que não queremos são boas claques, que não se deixem infiltrar por esses elementos.»

(Artigo actualizado)