Três temporadas de nível elevado em Paços de Ferreira, transferência para o Las Palmas e um dos mais mediáticos campeonatos do mundo. Hélder Lopes, 28 anos, nado e criado em Vila Nova de Gaia, candidato a um lugar no lado esquerdo da defesa da Seleção Nacional em exclusivo ao Maisfutebol.

A partir da capital da Gran Canaria, «um paraíso na terra», Hélder recorda os treinadores que mais o marcaram - com um destaque natural para Paulo Fonseca -, os primeiros dias no futebol ao lado do irmão gémeo (Tiago) e a temporada 2015/16, a época de todos os convites e assédios.

Dez presenças em jogos oficiais, depois de uma lesão complicada, e exibições que começam a convencer a exigente afición do Las Palmas. Gente apaixonada, gente que trata os seus futebolistas como verdadeiros deuses. Que o digam Kevin-Prince Boateng e agora Jesé e Halilovic.

Entre eles, um português obcecado por vitórias: Hélder Lopes, «de calções e havaianas todo o ano» na ilha espanhola. Não, em Las Palmas o inverno não está a chegar. 


MF – O Paulo Fonseca elogiou-o muito numa entrevista ao Maisfutebol. Foi o treinador que mais o marcou?
HL – Marcou-me imenso, aprendi muito com ele e só posso agradecer-lhe. Sou hoje um jogador muito mais preparado por culpa dele. Só lhe posso desejar as maiores felicidades e espero um dia voltar a ser treinado por ele. Mas também adorei estar com o Costinha no Beira-Mar, fez um trabalho fantástico. O clube atravessava grandes problemas financeiros e durante os jogos aconteciam coisas estranhas, sentia que os árbitros nos prejudicavam. E há mais dois treinadores importantes. O Filó, porque foi ele que apostou em mim como lateral, logo depois da morte do mister António Jesus, no Sp. Espinho. Eu era extremo e o Filó disse-me que olhava para mim e sentia que eu podia render mais a jogar de trás para a frente. E o Jorge Simão, por ser muito ambicioso e organizado. Adora ganhar, tal como eu.

MF – Confirma que esteve perto de assinar por um grande de Portugal?
HL – Sim, tive dois grandes de Portugal a bater-me à porta. Na altura senti que o que me era proposto, para o projeto desportivo e a nível financeiro, não era o que eu idealizava. Decidi esperar e esses clubes estavam com pressa. Mais tarde gostei muito da abordagem do Las Palmas e as condições que me ofereceram. Ainda bem que não fui impaciente.

Hélder Lopes nos tempos do Paços de Ferreira

MF – Como é que um futebolista lida com um processo de transferência?
HL – Eu respondo desta forma. O ano passado era o meu último no Paços e recebi dezenas de propostas, através de dezenas de empresários. É uma loucura e mexe com a nossa cabeça, não minto. Recebia constantemente telefonemas, promessas e até pessoas à porta de minha casa para assinar contrato. Não é fácil gerir tudo isto. Decidi-me pelo Las Palmas e pela liga espanhola. E bem.

MF – O Hélder nasceu em VN Gaia e começou cedo a jogar futebol.
HL – Sim, eu e o meu irmão gémeo [Tiago, jogador do Cluj] sempre fomos doidos por futebol. Começámos a jogar no Coimbrões, talvez com 12/13 anos. O nosso falecido pai levou-nos às captações e assinámos logo pelo clube. Estivemos lá dos infantis aos juvenis. Depois ainda passei um ano no FC Porto e fomos emprestados mais tarde ao Candal. Fizemos lá dois anos no Nacional de Juniores.

MF – Mais tarde teve de se separar do seu irmão gémeo. Custou muito?
HL – Em 2012 eu fui para o Beira-Mar e o Tiago para o Trofense. Foi estranho. Mas antes, no primeiro ano de sénior, fomos para Itália juntos, para a equipa satélite do Parma. O meu irmão ficou dois anos, eu fiquei só meio ano e fui para o Mirandela. Essa foi a primeira vez que nos separámos. Reencontrámo-nos depois no Oliveira do Douro e no Sp. Espinho.

MF – Tem saudades de ter o Tiago no mesmo balneário?
HL- Sim, quando o tinha comigo tudo era mais fácil. No Candal, por exemplo, fizemos grandes épocas e lutámos pelo título nacional de juniores. Tenho muitas saudades de jogar com ele na mesma equipa. É difícil, cada um seguiu o seu caminho. Mas é um desejo, sim. Ele está bem na Roménia, fez três épocas muito boas no Cluj e termina contrato agora em junho. Sei que tem convites muitos interessantes.

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