D10S vive em Nápoles. Para sempre. O corpo é instável, irascível, imparável, viaja por todo o planeta num evidente desassossego. A alma entronizou-se no San Paolo. Casa do adversário do FC Porto na Liga Europa, casa habitada pelos bons fantasmas de El Pibe.

A passagem de Diego Armando Maradona pela Campania foi uma revolução. No futebol, nas mentalidades, na definição de idolatria. Sem armas, feita de gestos e segundos de prodígio. O Pelusa fez da cidade o seu altar-mor, subiu ao Sétimo Céu, abençoou povo e clube.

A herança deixada incluiu dois títulos na Serie A, uma Taça de Itália, uma Taça UEFA e um filho.

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Diego Armando Maradona Júnior nasceu em 1986, fruto de uma relação extra-conjugal de D10S com Cristina Sinagra. Dieguito, de 27 anos, jogou no Nápoles até aos 20 e é um tiffosi apaixonado pelo emblema mais marcante na carreira europeia do pai.

O bastardo de Maradona, em entrevista exclusiva ao Maisfutebol, fala do Nápoles com autoridade. À atenção do FC Porto. O primeiro jogo dos oitavos-de-final da Liga Europa joga-se quinta-feira no Dragão. Uma semana depois, é a vez de uma visita ao «inferno azul».

«Em casa o Nápoles joga com a alma do meu pai, de D10S», avisa Dieguito. «Esta equipa é a melhor do clube nos últimos 15/20 anos. Talvez desde aquela que foi duas vezes campeã nos anos 80», acresce Maradona Júnior ao nosso jornal.

«O plantel atual tem condições para ser campeão nos próximos dois/três anos. A Juventus, nesta altura, ainda é superior. Mas não há ambiente em Itália comparável ao do San Paolo».

«Callejón e Higuaín são as melhores armas do Nápoles»

Entre os 60 mil tiffosi doentes pelo seu Napoli está sempre Diego Maradona Jr. Simbolismo poético nas bancadas, a 10 vestida por quem de direito, a ligação direta e privilegiada ao pé esquerdo do panteão da bola.

«É uma loucura, ainda hoje se canta o nome dele [do pai]. O FC Porto vai jogar no campo mais duro de Itália. Mesmo assim, creio que a eliminatória será equilibrada. O Porto está menos forte este ano, não é? Pois, mas é um dos grandes da Europa, seja como for».

Observador atento e apaixonado, Maradona Jr. destaca dois jogadores na equipa napolitana: «Callejón e Higuaín, claramente, são as nossas melhores armas».

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«O Callejón jogava pouco no Real Madrid e torci o nariz quando veio. Está a fazer uma temporada fenomenal. É um avançado de grande qualidade, com velocidade e técnica. Eu recomendaria muita atenção aos defesas do FC Porto, mas não posso. Quero que o Nápoles esmague (risos)».

Acima de Callejón, completa, só mesmo Pipita Higuaín. «Experiente, ganhador, mortífero na área, conhecido em todo o mundo. Creio que o treinador do FC Porto o conhece tão bem quanto eu».

E pontos fracos, quais são? «Não posso revelar», mais risos. «Bem, digo só um: o Nápoles adora atacar, joga no risco, e sofre muitos golos no contra-ataque. Fico-me por aqui».

«Rafa Benítez tem feito um bom trabalho»

17 pontos de atraso para a líder Juventus na Serie A. «Muito, demasiado». A desvantagem colocou a cabeça de Rafa Benítez no cepo. Até por isso, a Liga Europa é vista no San Paolo como a tábua de salvação, a alternativa sagrada.

«Ele tem feito um bom trabalho. Mudou completamente o plantel, está há pouco tempo cá e, por isso, acredito que a estratégia dará frutos nas próximas épocas», considera Diego Maradona Jr. «Mas sim, é verdade que os adeptos estão furiosos com a diferença para a Juve no campeonato».

E se o Nápoles cair contra o FC Porto na UEFA, Rafa também cai? «Não creio. A administração investiu muito nele e no plantel. O projeto tem de ser estável e os troféus chegarão a médio prazo. Mas o Nápoles não vai cair».

«Nápoles não é uma cidade perigosa»

Um milhão de habitantes, Património Mundial da UNESCO, terra natal da pizza. Nápoles tem muito a oferecer aos adeptos do FC Porto que a visitem na próxima semana.

«Permita-me dizer uma coisa», pede-nos Maradona Jr. «Nápoles não é uma cidade perigosa, ao contrário do que dizem. É uma cidade grande, com zonas pouco recomendáveis como qualquer sítio grande, mas segura. Tem as melhores pessoas de Itália e uma oferta riquíssima».

Dieguito destaca a zona histórica e o passeio junto ao mar. «O Tirreno é azul como o meu clube. Mas mais tranquilo. Nápoles é uma cidade lindíssima, mais do que Florença ou Roma».