Quinito abandonou o futebol como treinador, mas continua atento ao que se passa nos meandros do desporto-rei. Faz uma leitura ao campeonato e fala nas hipóteses do FC Porto chegar ao título e na mudança do futebol que o fez «aborrecer».

«Penso que o FC Porto ainda não entregou as armas, apesar da derrota com o Beira Mar», revela. Para Quinito, o Boavista e o Sporting estão «bem colocados». Quanto ao Benfica, o sadino tem poucas dúvidas: «Não parece que o Benfica tenha algo a dizer neste campeonato.»

Quinito pensa que a I Liga sofreu alterações nos últimos anos. «Há uns anos era impensável que equipas como o Sporting e o Boavista, que estão a lutar para o título, perdessem pontos em casa, como têm perdido. É um sinal que o futebol está mais competitivo. Não está tão bonito. Está a dar vantagem aos que têm uma boa disciplina táctica», diz Quinito.

No entender do antigo treinador, o futebol está mais «musculado». A arte deu lugar à força, e o jogo tornou-se aborrecido. Quinito aponta o culpado: «O futebol alemão é o responsável por esta inversão de valores daquilo que é o espectáculo de arte. De tão aborrecidos que são os jogos, há sempre um golo através do cansaço provocado nas equipas que jogam bem», afirma. O futebol brasileiro também não escapa às influência alemãs.

«O Brasil já está completamente dominado, picado pelo virus do futebol da força. A magia do futebol brasileiro está a ficar para trás», afirma Quinito.

«Romário tem que jogar nem que tenha 50 anos»

A polémica em torno da presença de Romário no Mundial 2002, enche as manchetes dos diários brasileiros. Quinito chegou do Brasil e não percebe algumas ideias do seleccionador brasileiro, Luis Filipe Scolari. «O Romário é o jogador da magia e do encanto. Scolari é um treinador que não pensa assim. Acha que a única forma de vencer as equipas europeias é através da táctica», diz. Na opinião de Quinito, Romário «tem que estar em jogo nem que tenha 50 anos», e explica a razão: «Ele e o golo é uma imagem bonita que tem que estar num evento com o Mundial.»

A esperança de Quinito num futebol diferente vem do continente africano, onde, acredita, reside ainda a pureza e o cheiro do futebol natural. «Acho que os africanos são os ultimos moicanos a aguentar esta estúpida mania de entender o futebol como um jogo de força, e não de arte, cor e magia. A táctica e o músculo ganharam na luta contra o encanto, a finta, com o prazer de um espectáculo que tem a ver mais com arte do que brutalidade», conclui.

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