Quinito abandonou definitivamente a carreira de treinador aos 52 anos. Depois de três meses de indecisão, assume o desencanto do futebol actual e diz adeus ao relvados portugueses. Agora a vida do ex-treinador assume novos contornos. Em Setúbal, entre a paixão da escolinha dos «miúdos» e a SAD do Vitória, Quinito tem outra profissão - é jornalista.

«O convite surgiu num círculo de amizade», começa por dizer. «A minha primeira resposta foi não», confessa. Quinito recusou a primeira proposta para ser director no jornal Distrito de Setúbal Desportivo, e explica porquê: «Tenho a noção do ridículo e daquilo que sou capaz de fazer. Entendi que, aceitando o convite, ia provocar nos profissionais que trabalham neste projecto alguma estranheza em relação a um paraquedista que vem dos balneários de futebol, para vir liderar um grupo de trabalho que é profissional e para o qual não estou minimamente preparado.»

«Bicho da rádio destruiu a minha carreira de treinador»

Nesta fase passaram três meses, em que Quinito pensava abandonar o futebol, mas reaceava o futuro. «Estava com muita dúvidas. E agora?», pensava. «Se ficasse como treinador seria muito mau para mim, porque iria desempenhar um papel que não era o meu naquele palco. Se ficasse seria apenas por sobrevivência», diz. O desencanto do futebol deixou Quinito sem rumo e com uma nova paixão - a rádio.

«Foi o bicho da rádio o principal destruidor da minha carreira de treinador. Além do desencanto do futebol de hoje, a rádio ajudou a pôr ponto final na minha carreira porque foi lá que senti paixões e emoções novas», revela o antigo treinador, que começou por ter um pograma numa rádio de Setúbal.

Além disso, para Quinito o futebol estava a consumi-lo demasiado depressa. «Estava a ficar velho precocemente. Já não tinha grande paixão pelo que fazia, e era repetir matéria dada. Entrei numa nova vida onde estou a ser aprendiz em todas as frentes», declara.

O antigo treinador é hoje director do jornal desportivo de Setúbal. Considera-se com «mais força e mais jovem», mas não esconde as dificuldades que espera encontrar numa profissão que diz ser mais difícil: «Temos que apertar o cinto porque andar no futebol é diferente de andar nos jornais. Mas até essa nova «guerra» é importante. A vida é tão fácil sendo treinador de futebol, porque nos dá uma qualidade de vida que pouca gente tem, que isso leva a algum aburguesamento e a não dar importância aos pequenos prazeres da vida». Para isso, confia que vai ser jornalista, custe o que custar.

«Eu sou um aprendiz. E vou seguramente ser um jornalista o resto da minha vida. Vou ter que trabalhar muito e aprender muito. Espero ser um bom aprendiz, para depois ser um bom companheiro e vou lutar para ser um mestre. O jornalista tem um tarefa dificil», revela.

Quinito olha para a redacção como um balneário, mas num jogo diferente onde muito tem de aprender e pouco terá a contribuir neste momento. «Acabei por aceitar e entrar neste «balneário» dizendo humildemente que vinha como um aprendiz. Que não ia dar muito ao projecto. É evidente que a responsabilidade é minha, mas acredito que temos grandes profissionais».

Tal como num clube, o antigo treinador orienta os jornalistas como jogadores num balneário. Quinito explicou ao Maisfutebol, como se sente na redacção.

«Há uma liderança, há bons jogadores que neste caso são jornalistas que estão à procura, seguramente, de poderem jogar em clubes melhores. Há as vitórias, há derrotas. Há o acumular da adrenalina durante a semana que depois é gasto quando o jornal acaba por sair», compara.

«O fecho do jornal é parecido ao nervosismo dos momentos que antecedem os grandes jogos, com as grandes equipas. Quando o jornal sai há uma sensação quase parecido como termos ganho ao Benfica, Sporting, FC Porto ou até ao Real Madrid. O prolongamento é nas bancas», afirma.

Quinito encara a chefia do jornal como um campeonato onde o director pode ser despedido se não conseguir vitórias, ou seja, se não fizer chegar o jornal às pessoas. Para isso, Quinito dá voltas às bancas para controlar os indíces de venda. «Queremos ser primeiros num campeonato que é regional. Sabemos que não podemos ganhar por goleada, não podemos subir de divisão nem ter encontros internacionais. É um campeonato apaixonante mas difícil, onde temos limites», conclui.

O «técnico» já iniciou funções. Quando o Maisfutebol esteve na redacção do Disttrio de Setúbal Desportivo ouviu as primeiras instruções do novo director. Quinito deu indicações para a primeira página do jornal, chamando a atenção para que o futebol tivesse mais destaque, pois claro!

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