O recente conflito entre a Comissão Disciplinar da Liga e o Conselho Nacional de Anti-Dopagem (CNAD) é o último episódio de uma sucessão de problemas que a questão da nandrolona tem gerado no futebol, nos últimos meses. 

A nandrolona começou a baralhar o mundo do futebol há quase um ano, quando, no início de Abril de 2001, o internacional português Fernando Couto acusou esse esteróide anabolisante em níveis excessivos. O caso gerou perplexidade, tendo em conta o jogador que estava em causa e o passado totalmente limpo que apresentava.  

Outros casos se multiplicaram a partir daí. Antes ainda de Couto, havia sido Bucchi, do Perugia, e De Rold, do Pescara. Itália foi palco de vários outros casos (Gilet, Sacchetti, Caccia, Monaco, Torrisi...), mas três deles deram tanto que pensar como o de Couto: o holandês Stam (hoje no Manchester mas na altura na Lazio), o espanhol Guardiola (pouco depois de ter chegado ao Brescia) e o holandês Edgar Davids (na Juventus). 

Antes ainda de terem sido conhecidos pormenores mais detalhados sobre cada um destes caso, o envolvimento de tantos jogadores com a craveira dos nomes acima citados gerou logo muitas dúvidas e perplexidades. Alguém acredita que, num tão curto espaço de tempo, jogadores da dimensão de Davids, De Boer, Couto, Guardiola, Stam tenham caído todos no mesmo erro? 

A nandrolona chega a Portugal 

Depois dos casos em Itália, o futebol português foi afectado. Primeiro, com o conhecimento de quatro casos relativos à época passada: Marco Almeida e Laelson (então no Campomaiorense), Paulo Pereira (Ovarense) e Ronaldo (Benfica). Na altura, o CNAD avisou que mais 27 suspeitas estavam a ser avaliada. O início do ano de 2002 ditou mais dois nomes: Quim (Braga) e Glauber (Boavista). 

Outro habitual jogador da selecção portuguesa foi assim relacionado com esta questão: depois de Couto, o guarda-redes Quim. A reacção do jogador, que jura inocência, volta a colocar a questão da dúvidas sobre como explicar esta problemática. A comunidade científica recomenda reservas a quem julga estes casos, recomendação que a Comissão Disciplinar da Liga tem vindo a seguir.  

O problema é que o Regulamento Disciplinar que rege as competições profissionais organizadas pela Liga prevêem castigos para casos como os que estão em cima da mesa, neste momento. O CNAD já considerou publicamente que não penalizar os jogadores pode constituir «um incentivo às práticas dopantes». Quem tem, afinal, razão? 

Contestando a legitimidade do CNAD -- e mesmo os meios que utiliza para fazer as análises -- o Braga é o clube que mais tem mostrado revolta. A defesa de Quim está a ser levada até às últimas consequências: primeiro foi a crítica à quebra de confidencialidade, uma vez que foi tornado público o controlo positivo antes da contra-análise; depois a ameaça de recurso ao Instituto Português da Qualidade e mesmo ao Comité Olímpico Internacional, tentando provar que o CNAD não tem razão. 

Explicações para o fenómeno 

Jogadores, médicos e clubes dizem que os níveis excessivos de nandrolona se devem a factores endógenos, ou seja, à própria produção do corpo (argumento que convenceu a CD da Liga); a questão dos suplementos nutricionais contaminados é outra explicação avançada pela comunidade científica, que acusa a indústria farmacêutica de fabricar produtos que contêm substâncias ilícitas, sem especificar no rótulo.  

Se essa teoria se confirmar, as primeiras vítimas são os jogadores, que estão a tomar substâncias proibidas sem saber, podendo, com isso, estar a prejudicar a sua saúde e a arriscar-se a serem apanhados em delito involuntário. Mas a dúvida permanece: vítimas ou culpados?  
 

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