Luís Figo ameaçou nesta terça-feira abandonar a selecção nacional se não for definido um projecto para o futebol português. Palavras duras do jogador português, que já se tinha mostrado agastado com o processo de escolha do seleccionador.

«De uma vez por todas as pessoas têm de explicar o que querem e o que pretendem para o futebol português. Eu tenho o meu prestígio, se venho à selecção para perder prestígio prefiro não vir. Se vejo que não há um projecto, prefiro não vir», afirmou o jogador em Gotemburgo, onde a selecção nacional defronta esta quarta-feira a Suécia.

As declarações do jogador que foi eleito o melhor do Mundo em 2001 surgiram na conferência de imprensa, depois de uma observação sobre o semblante carregado e o ar de tristeza dos jogadores da selecção, desde o Mundial. Saiba o que disse Figo:

«Fazemos parte do processo, mas não temos decisão no futuro da selecção. Quem manda é que pode responder a isso e nós os jogadores temos de cumprir com quem está no comando neste momento. Tentar fazer o melhor para que as coisas continuem. Quanto ao futuro, não sei, só o que vem nos jornais. A minha opinião não interessa, têm que perguntar ao presidente da Federação. A tristeza do grupo não é de agora, já vem de há muito tempo.

«No campo não se pensa no que aconteceu ou no que vai acontecer. Somos profissionais, mas sei que estando feliz posso render mais. Por outro lado, não tenho tempo para pensar em quem me assobia ou quem me aplaude. A selecção passou por uma fase de tranquilidade, depois de euforia, depois de desilusão e agora de pouca segurança. Luto para que os colegas mais jovens possam ter um futuro melhor do que o que eu tive e não tenham tantas dificuldades, que tenham prazer e mais alegria com a selecção.»

«É claro que o ambiente para jogar em Portugal não é como antes do Mundial. As pessoas esperam resultados grandes e quando isso não acontece tomam atitudes que não ajudam nem são as melhores.

«O futebol é vivido no momento e memória é curta. Sei que não ganhámos nada mas isso não é fácil para um país como Portugal. A Suécia também não ganha nada, a Inglaterra também não, a Espanha também não. As pessoas têm razão em manifestar quando não gostam, eu faço o mesmo.»

Dúvidas sobre «influências» na escolha do seleccionador

O jogador disse ainda esperar estar no Euro-2004, mas depois intensificou o tom de crítica:

«Mas as pessoas que têm decisão, quem manda, é que tem que esclarecer como é que as decisões são tomadas. Como é feita a escolha do seleccionador nacional ou não é, se é por influências ou não. Eu não tenho razão nem capacidade para explicar isso. As pessoas têm de explicar o que querem do futebol português. Eu tenho prestígio e se vier aqui para o perder prefiro não vir. Estou aqui para andar para a frente, se não há um projecto nem intenções nesse sentido prefiro não vir.»

«É claro que é um orgulho e uma honra representar a selecção, mas as coisas têm que ser claras e as pessoas têm que ter palavra no que prometem e falam. Quando não têm, têm de se sujeitar à opinião pública.»

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