A piada corria pelas redes sociais sensivelmente a meio da corrida. «Romain Grosjean está a fazer um excelente trabalho na frente da Fórmula 2...».

De facto, e já não é de agora, os Grandes Prémios de Fórmula 1 tornam-se, cada vez mais, numa disputa interessante por todos os lugares que não o primeiro. Esse tem dono: Sebastian Vettel.

Foi assim em oito das quinze corridas deste ano. Foi assim nas quatro últimas. E a situação já lhe gerou algum desconforto. Foi assobiado no pódio em Monza e em Singapura. Com bom jogo de cintura, aceitou os protestos e garantiu perceber quem critica a falta de competitividade.

Mas não tirou o pé do acelerador. E ganhou outra vez.

O triunfo deste domingo pareceu, acima de tudo, natural. Mesmo que Lewis Hamilton tivesse sido o mais rápido nos dois primeiros treinos, a partir daí começou o show do costume do alemão. Dominou os terceiros treinos, garantiu a pole-position com relativo conforto, largou bem, como faz sempre, e não se deixou incomodar durante toda a corrida.

Foi líder em todas as voltas. Mesmo tendo ficado atrás do companheiro da Red Bull Mark Webber, aquando da primeira paragem nas boxes, o australiano parou para mudar de pneus na mesma volta. Quando passou na linha de meta, já estava Vettel na frente. Como sempre.

Rebentamentos, chamas, acidentes...

Na retaguarda do tricampeão, desenrolava-se a tal corrida de Fórmula 2.

E aí, a figura foi, sem dúvida, Kimi Raikkonen. Mais não fosse porque partiu do nono lugar e acabou em segundo. Mas também porque o «Iceman» continua a mostrar ser um dos pilotos mais inteligentes na gestão de corrida.

Calculista, sabe bem quando é a altura certa de atacar e provou-o no momento que foi decisivo: quando deixou Romain Grosjean para trás, já depois da saída de pista do segundo safety-car.

Sim, a corrida teve dois safety-cars, alguns momentos caricatos, toques, rebentamentos de pneus, carros em chamas...mas nem isso fez, sequer, tremer Vettel.

Vamos por partes. O primeiro safety-car foi chamado depois de o pneu da frente do lado direito do McLaren de Sergio Pérez ter rebentado. Dúvida: rebentou porquê? Voltamos a Silverstone 2013? Os próximos dias deverão ser esclarecedores.

Sem tempo para grandes análises, a corrida retomou, mas não por muito tempo. Adrian Sutil tocou em Mark Webber e o Red Bull do australiano começou a arder. Com toda a calma, Webber saiu do monolugar e ficou a ver as chamas consumirem parte do mesmo.

A calma de Webber não alastrou à direção de corrida que, num erro inacreditável, mandou para a pista o carro de assistência, sem ordenar, primeiro, a entrada do safety-car. A imagem do carro na frente do pelotão e do verdadeiro safety-car ao fundo, a tentar passar toda a gente para impor a ordem, é o paradigma perfeito do lado mais caricato de uma corrida ameaçada para o próximo ano, porque dá prejuízo desde a primeira edição e pouco interesse desperta na comunidade local.

Já repararam em Hulkenberg?

Até ao final, para além da ultrapassagem de Raikkonen a Grosjean, e do (invulgar) pedido da Lotus para o francês dar luta ao colega de equipa, mesmo que este dissesse, via rádio, não estar em condições de o fazer, o destaque foi Nico Hulkenberg.

O alemão voltou a mostrar que precisa urgentemente de um carro onde caiba o seu enorme talento. Com um fraquinho Sauber que lhe deve todos os pontos esta época, Hulkenberg aguentou durante mais de dez voltas a pressão intensa de Lewis Hamilton e segurou o melhor resultado do ano: quarto lugar. À atenção da Lotus, que tem uma vaga para preencher na próxima época.

E Vettel? Seguiu o seu trilho até à bandeira de xadrez, festejou com a euforia do costume e cavou um fosso de 77 pontos para Fernando Alonso que, tal como toda a Ferrari, passou despercebido pela Coreia do Sul.

Se retirarmos o Grande Prémio da Grã-Bretanha, no qual foi obrigado a abandonar com problemas mecânicos quando ia na frente, o pior resultado de Vettel este ano foi o quarto lugar na China e em Espanha. Sintomático.

Vai ser «tetra», se houver lógica. Por muito que continuem a assobiar.

Classificação final do Grande Prémio da Coreia do Sul:

1. Sebastian Vettel (Red Bull)
2. Kimi Raikkonen (Lotus)
3. Romain Grosjean (Lotus)
4. Nico Hulkenberg (Sauber)
5. Lewis Hamilton (Mercedes)
6. Fernando Alonso (Ferrari)
7. Nico Rosberg (Mercedes)
8. Jenson Button (McLaren)
9. Felipe Massa (Ferrari)
10. Sergio Perez (McLaren)
11. Esteban Gutierrez (Sauber)
12. Valtteri Bottas (Williams)
13. Pastor Maldonado (Williams)
14. Charles Pic (Caterham)
15. Giedo Van der Garde (Caterham)
16. Jules Bianchi (Marussia)
17. Max Chilton (Marussia)
18. Jean-Eric Vergne (Toro Rosso)

Abandonos:
Daniel Ricciardo (Toro Rosso)
Adrian Sutil (Force India)
Mark Webber (Red Bull)
Paul di Resta (Force India

Classificação Mundial de Pilotos:

1. Sebastian Vettel, 272 pontos
2. Fernando Alonso, 195
3. Kimi Raikkonen, 167
4. Lewis Hamilton, 161
5. Mark Webber, 130
6. Nico Rosberg, 122
7. Felipe Massa, 89
8. Romain Grosjean, 72
9. Jenson Button, 58
10. Paul di Resta, 36
11. Nico Hulkenberg, 31
12. Adrian Sutil, 26
13. Sergio Pérez, 23
14. Daniel Ricciardo, 18
15. Jean-Eric Vergne, 13
16. Pastor Maldonado, 1

Classificação Mundial Construtores:

1. Red Bull, 402 pontos
2. Ferrari, 284
3. Mercedes, 283
4. Lotus, 239
5. McLaren, 81
6. Force India, 62
7. Sauber, 31
8. Toro Rosso, 31
9. Williams, 1