Ainda hoje é recordado como «o penálti de Cruyff», menos repetido do que «o penálti à Panenka». Foi há precisamente 31 anos que o génio holandês surpreendeu primeiro o guarda-redes do Helmond Sports e consecutivamente o mundo com uma forma inovadorar de marcar uma grande penalidade.

Cruyff ficaria na história do futebol por estas e muitas outras razões, enquanto o pobre do guarda-redes caiu no esquecimento, abandonou a carreira, foi taxista e agora faz entregas postais na UPS. Otto Versfeld não é reconhecido na rua, não é convidado para grandes eventos, nem tem uma fundação. Raros são aqueles que associam o seu nome sempre que referem o tal penálti. No máximo é o «Otto do penalty», aquele que não cobrou um cêntimo para contar a história e se o tivesse feito hoje estaria milionário.

O astro holandês raramente marcava penáltis e daquela vez, no fundo, também não o fez. Pelo menos não na forma convencional, tocando para Jasper Olsen, que retribuiu para um golo fácil.



O mito estaca criado e esta passou a ser uma imagem de marca de Johan Cruyff, apesar de muito se ter escrito sobre a invenção do penálti a dois toques. Isto porque muito antes de 1982 já tinha havido quem no futebol tivesse feito algo semelhante. Aconteceu em 1957, quando o belga Rik Coppens protagonizou a marcação de uma grande penalidade na qualificação para o Campeonato do Mundo, em 1957, num jogo entre a Bélgica e a Islândia.



Também a 21 de novembro de 1964, em Inglaterra, num jogo da segunda divisão entre o Plymouth Argyle e o Manchester City aconteceu algo semelhante. O golo da vitória por 3-2 foi apontado por Mike Trebilcock, depois de receber a bola de um toque de Johnny Newman na marcação de penálti. (64)



Estes foram casos de sucesso, muito raros, até porque é preciso saber fazê-lo com eficácia e são poucos os que o tentam e conseguem. Quando alguém o falha é automaticamente ridicularizado.

Em 2005, no campeonato inglês, Robert Pires e Thierry Henry não conseguiram executar o lance com eficácia e foram criticados por todos menos pelo próprio Cruyff. O adversário do Arsenal naquela circunstância, o Manchester City, considerou que se tratou de uma falta de respeito. «Não compreendo porque é que se diz que é desrespeitoso. Normalmente é cem por cento golo. Foi uma pequena surpresa terem falhado», disse o holandês na altura.



Em março de 2009 foi a vez da seleção sub-21 portuguesa falhar num lance similar, durante um jogo particular com Cabo Verde. Com dois golos de vantagem no marcador, Bruno Pereirinha decidiu recordar Cruyff. Tentou imitar a grande penalidade que o holandês inventou ao serviço do Ajax, mas deu-se mal. Um adversário «topou» a intenção, e cortou o lance.



O jovem português ficou associado a este momento pelas piores razões, mas não foi a primeira vez que se tentou algo deste género em Portugal. A 20 de abril de 1984, num Sp. Braga-V. Guimarães, João Cardoso e Dito tiveram sucesso. O treinador arsenalista era Quinito e deu autorização. Silvino era o guarda-redes do Vitória e nada pôde fazer perante a eficácia adversária, mas o árbitro José Guedes anulou o lance, por considerar que era ilegal.

Não há imagens dessa altura, mas outros lances vão surgindo de forma dispersa e registados em todo o mundo. Com sucesso ou não, os jogadores que o tentam possuem algo diferente. Um arrojo que deve ser louvado, mesmo que não agrade ao adversário.