Hulk regressa nesta terça-feira ao Estádio do Dragão, agora como adversário. Pura ironia. No final de agosto, o internacional brasileiro estava a recuperar no FC Porto quando soube que teria de enfrentar o clube que lhe abriu as portas do futebol europeu.

O avançado do Zenit foi tratado pelo departamento clínico do F.C. Porto, imortalizado no museu do clube e apresenta-se como maior foco de perigo no próximo compromisso dos dragões. «Espero que ele não jogue ou que jogue pouco», diz André Castro ao Maisfutebol, em jeito de brincadeira.

O comum adepto está a par do percurso de Hulk no emblema portista. É impossível não conhecer grande parte da história. Mas este regresso do brasileiro torna-se ainda mais curioso com os acontecimentos dos últimos dois meses.

A 27 de agosto, o assessor do jogador confirmou ao nosso jornal  que o jogador estava a recuperar de uma lesão com os médicos do F.C. Porto. O avançado fez esse pedido expresso ao Zenit, manifestando a sua confiança nos elementos do corpo clínico azul e branco.

O clube russo acedeu e o brasileiro rumou à cidade Invicta, onde continua a ter casa. Hulk estava na Invicta quando, a 29 de agosto, o sorteio colocou FC Porto e Zenit no mesmo grupo da Liga dos Campeões. Ou seja, terminou a recuperação num clube que passaria a ser seu adversário.

«Foi um momento complicado para ele, seguramente. Ele sente-se em casa no Porto e estava aí a recuperar de uma contusão grave. O Porto aceitou esse pedido e recebeu-o de porta aberta, como sempre. Portanto este jogo será um misto de emoções para ele», confessa Mano Costa, coordenador da escola de futebol do brasileiro na Paraíba.

O professor Mano, que ajudou Huk a dar os primeiros passos no futebol, vai torcer pelo empate. «Ele já disse que não vai festejar se marcar. Às vezes faz-se um golo com vontade, outras porque a profissão assim o exige. Vou ver o jogo a torcer por dois empates, em Portugal e na Rússia, para não ficar dividido», diz o brasileiro.

Hulk pode ver a sua estátua no museu portista

O avançado regressou à competição em setembro. No dia 18, marcou um golo no reduto do Atlético de Madrid, insuficiente para evitar o desaire do Zenit. Nos três jogos seguintes, agora para o campeonato russo, assinou mais quatro tentos.

A 28 de setembro, depois de contribuir para a vitória frente ao Spartak de Moscovo (4-2), soube oficialmente que a sua passagem pelo F.C. Porto ficaria imortalizada no novo museu do clube, inaugurado nesse dia.

Os adeptos portistas elegeram Hulk para o melhor onze de sempre, formando um tridente atacante com Paulo Futre e Fernando Gomes. Por isso mesmo, teve direito a uma figura, a uma estátua que o encheu de satisfação.

«É uma honra fazer parte do melhor onze de sempre da história desse grande clube. Ainda mais gratificante ser escolhido por adeptos e simpatizantes no meio de nomes de craques que fizeram parte de uma grande história», escreveu o brasileiro na altura, partilhando uma imagem da estátua.

Hulk, que se saiba, ainda não visitou o museu. Neste regresso ao clube, surge a oportunidade mas o estatuto de rival pode impedir a concretização do desejo. «De certeza que ele gostaria de ir ao museu, mas acho que o Zenit não iria deixar», reconhece o professor Mano.

 

Volta como melhor marcador do Dragão

Eis então o problema: desta vez, Hulk está do outro lado. Regressa como adversário a uma casa onde foi feliz. Aliás, jogará num Estádio do Dragão que não esquece o seu nome. O brasileiro é o melhor marcador da história do recinto. E um golo como jogador do Zenit entraria, de forma estranha, nesta contabilidade.

O avançado marcou 44 golos no palco do F.C. Porto, superando Radamel Falcao (40). O último deles foi já na temporada 2012/13, antes da saída, num jogo frente ao Vitória de Guimarães. A seu lado tinha Jackson Martínez, mas a dupla separou-se rapidamente. Nesta terça-feira, será o reencontro.

«Será complicado, como disse. Ele tem muito respeito pelo F.C. Porto, que lhe abriu as portas do futebol europeu e da seleção brasileira. Sinceramente, eu acredito que, no futuro e depois de sair do Zenit, ele voltará ainda um dia a jogar no Porto», diz o professor Mano, ao Maisfutebol.

André Castro, médio cedido pelos dragões ao Kasimpasa (Turquia), reforça a análise. «O Hulk vai fcar na história do Porto, não só pelo que ganhou, mas pelo que representava. Regressa pela porta grande e vai ser de certeza aplaudido.» 

O médio de 25 anos, formado no clube, não esquece o que sentiu quando defrontou o F.C. Porto ao serviço do Olhanense. «Mexe sempre com um jogador. Sente-se um friozinho na barriga, ouvem-se os aplausos. São muitas emoções.»



«Lembro-me bem quando o enfrentava nos treinos»

Será especial, não restam dúvidas. Feche-se então esse capítulo e coloque-se a questão seguinte. O que devem fazer Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro para travar Hulk? «Eu lembro-me bem quando o defrontava nos treinos», diz Castro, soltando uma gargalhada.

«Não é fácil, não é fácil...Mesmo conhecendo o Hulk, sabendo o que ele vai fazer, a velocidade de execução dele é incrível e deixa-nos para trás. Ele é um jogador com técnica mas às vezes basta-lhe uma finta simples, com a velocidade de execução e a força do corpo, para se tornar muito difícil pará-lo», considera o médio do Kasimpasa, atual terceiro classificado da Liga turca.

Hulk precisará de um segundo jogador atento aos seus movimentos. «De vez em quando ainda o puxava, tinha de ser, mas nos treinos não havia muito disso e nos jogos o árbitro vê. Portanto, se ele jogar na direita, é preciso haver outro jogador que perceba quando ele vai puxar para dentro e rematar. Conhecemos os movimentos, mas às vezes nem isso basta. Espero que não esteja inspirado», remata o jogador dos quadros do F.C. Porto.

Inspiração não tem faltado ao jogador. Marcou nove golos nos últimos nove jogos. Este foi o mais recente.