Ivan Cavaleiro é a nova esperança do futebol encarnado. Jorge Jesus lançou o jovem avançado na Liga dos Campeões e abriu espaço para a sua entrada no onze para o campeonato. 82 minutos frente ao Nacional da Madeira, uma titularidade a relançar a discussão sobre a formação do Benfica.

Internacional sub-21, Cavaleiro tem potencial para crescer mas reclama continuidade. «Joguei com ele em 2010/11, eu como júnior de segundo ano e ele de primeiro. Marquei um golo ao F.C. Porto, por exemplo, com uma assistência dele. É um ótimo jogador, tem muita atitude, uma forte personalidade e merece a oportunidade que lhe estão a dar.»

«Se ele trabalhar como tem feito até agora, poderá ser um grande jogador. Mas a pergunta certa é se vão mesmo apostar no Ivan. E se ele terá tempo para crescer. Porque talento não lhe falta, sem dúvida». A dúvida de Diogo Caramelo, em contacto com o Maisfutebol é pertinente. Aos 20 anos, o avançado formado no Benfica representa os Tampines Rovers de Singapura.

Seis estreias pela mão de Jorge Jesus

Ora então, Jorge Jesus lança-os para onde? Essa é a dúvida que fica, sabendo que a aparição na equipa principal de um grande não basta, por si só, para garantir um futuro ao mais alto nível. O treinador chegou ao clube encarnado em 2009 e, desde então, estreou seis jogadores oriundos dos escalões jovens.

Roderick Miranda foi o primeiro, seguindo-se Nélson Oliveira, Luís Martins, David Simão e André Gomes, antes de Ivan Cavaleiro. Nélson e David foram apostas para a época 2011/12,  apresentados como pompa e circunstância como reforços, a par de Miguel Rosa e Rúben Pinto (pode ver o vídeo no início deste artigo). 

Nélson Oliveira continua vinculado ao clube. Roderick, Luis Martins e David Simão saíram em definitivo, tal como Miguel Rosa. Este sem direito a estreia na equipa principal.  

Os mais críticos acharão pouco, os otimistas ficarão satisfeitos com o aproveitamento. Por vezes, a responsabilidade não se esgota no treinador, sendo necessário avaliar a política desportiva do próprio clube.

«Quando regressei ao Benfica, entendi que podia ser opção, mas a questão é mais abrangente que isso. Basta ver que o Matic, nesse ano, foi muito pouco utilizado. Havia e há muita qualidade. Penso que o ideal seria ter um jovem a entrar no onze em jogos de menor dificuldade, ou estando no banco e entrando quando estivesse resolvido», diz David Simão.

Atualmente no Arouca, David Simão cedo percebeu que teria pouco espaço no Benfica de Jorge Jesus. «Lembro-me que vinha de uma boa época no Paços. Mas logo na pré-época, num jogo frente a uma equipa suíça que vencemos por 12-0, fiz apenas dez minutos e como lateral esquerdo. Percebi logo que seria difícil ser opção. Mas enfim, não é só um problema do Benfica, é difícil ser um jovem português em Portugal», remata o esquerdo, ao Maisfutebol.

Leia aqui a entrevista completa com David Simão.

Recue no tempo e recupere os nomes das promessas que passaram pela equipa principal do Benfica. No período que antecedeu a chegada de Jesus, a realidade não era muito diferente. João Pereira e Manuel Fernandes, lançados por José António Camacho na época 2003/04, serão as principais exceções.                                                             

Mano e Orlando Sá foram as apostas antes da Luz

Observando o registo pessoal do atual treinador encarnado, percebe-se que a aposta prematura em jovens portugueses não é uma das suas principais marcas. Aliás, encontrámos apenas dois registos de aposta na formação entre os clubes que Jorge Jesus treinou na última década, no campeonato nacional, antes de rumar à Luz

Em 2003/04, o técnico pegou no Moreirense durante a fase crucial da temporada, sem tempo para olhar para as camadas jovens, tendo como único objetivo a fuga aos lugares de despromoção. No ano seguinte, assumiu a União de Leiria mas apostou na experiência. Chega então o Belenenses e uma estreia em duas épocas: Mano. O lateral de 26 anos está agora no Estoril.

No Sp. Braga, Orlando Sá foi a grande aposta. 15 jogos e 2 golos na temporada 2008/09 para o avançado que se apresentava como uma grande promessa. Foi contratado pelo F.C. Porto no fim da época, passou por Nacional e Fulham, reaparece agora em boa forma no AEL de Limassol.

Fábio Coentrão e André Almeida entram no plano alargado

Roderick, Nélson Oliveira, Luís Martins, David Simão, André Gomes e Ivan Cavaleiro. Estes são os seis jovens oriundos da formação do Benfica e com direito de entrada na equipa principal no reinado de Jorge Jesus.

O leitor recordará outros nomes, como Fábio Coentrão ou André Almeida. O esquerdino foi contratado pelo Benfica em 2007, três anos após a primeira aparição na Liga, com a camisola do Rio Ave. Não é um produto da formação do Benfica e fez a sua estreia no clube da Luz pela mão de Fernando Santos.

Fábio Coentrão, então um extremo promissor, saiu a meio da época para o Nacional da Madeira. Seguiram-se o Saragoça e um regresso ao Rio Ave. Em 2009, então com 21 anos, apresenta-se no Estádio da Luz e explode como lateral. Aí sim, enorme mérito de Jorge Jesus. Uma aposta forte no português que desceu no terreno para se afirmar como um dos melhores da Europa na sua posição.

André Almeida estava nos juniores do Belenenses quando Jesus passou pelo clube do Restelo. Porém, fez a sua estreia na Liga com Jaime Pacheco, a 29 de novembro de 2008. Apareceu de forma pontual nessa temporada e passou a opção regular nas seguintes: 23 jogos no escalão principal e 18 na II Liga antes de assinar pelo Benfica, já em 2011.

Aqui fica o percurso dos produtos da formação do Benfica que Jorge Jesus lançou no clube encarnado, antes de Ivan Cavaleiro:

Roderick
Tinha apenas 18 anos quando fez a sua estreia, num Benfica-AEK de Atenas da Liga Europa, a 17 de dezembro de 2009. Apenas dois jogos nesse ano, seis na temporada seguinte. Saiu por empréstimo para Servette e Deportivo da Corunha, regressando no início de 2013. Voltou a ser aposta de Jorge Jesus, por vezes como médio defensivo. Despediu-se num lance infeliz, sendo superado por Kelvin antes do remate que virou o campeonato. Foi transferido a título definitivo para o Rio Ave.

Nélson Oliveira
Após empréstimos a Rio Ave (12 jogos na Liga) e Paços de Ferreira (23 jogos na Liga), Nélson Oliveira surge no plantel principal do Benfica para a temporada 2011/12. Jorge Jesus faz uma aposta forte, colocando o avançado em campo por 22 vezes. Tinha 20 anos. Apenas três golos marcados, dois na Taça da Liga e um momento de glória na Liga dos Campeões, frente ao Zenit. Foi cedido ao Deportivo da Corunha (30 jogos na Liga espanhola e 4 golos), seguindo entretanto para o Rennes, igualmente por empréstimo. Seis golos em dez jogos na Liga francesa.

Luís Martins
Está a dar nas vistas com a camisola do Gil Vicente. Antigo júnior do Benfica, foi lançado pelo técnico encarnado a 2 de novembro de 2011, com 19 anos. Jogou como titular frente ao Basileia, para a Liga dos Campeões. Fez mais quatro jogos, todos na Liga, até final dessa temporada. Dois deles como opção para o onze. Porém, iniciou a época passada na equipa B e acabou por sair para o Gil Vicente no mercado de inverno, a título definitivo.

David Simão
O médio era apontado como uma grande promessa e foi cedido ao Fátima após o período de formação. Fez 25 jogos na II Liga portuguesa. Seguiu-se outro patamar, 25 jogos no escalão principal com a camisola do Paços de Ferreira e seis golos marcados. Parecia caminhar para a afirmação. Em 2011, regressa à Luz e aparece em dois jogos da Taça de Portugal. Estadia curta. Seguem-se empréstimos a Académica e Marítimo, onde deixa boas indicações, e o divórcio. Em junho, David Simão assinou por três épocas com o Arouca.

André Gomes
O médio chegou ao Benfica como júnior, após passagens por FC Porto, Pasteleira e Boavista. Natural de Vila Nova de Gaia, André Gomes cativou os observadores na antecâmara da equipa principal e mereceu a aposta de Jorge Jesus quando este se viu privado de Axel Witsel e Javi Garcia. Fez 18 jogos na época passada, marcando um golo na Liga e outro na Taça de Portugal. Foi inclusivamente chamado à seleção nacional. Neste início de temporada, porém, parece ter perdido alguma margem. Apenas um jogo na equipa principal até ao momento, como suplente utilizado na derrota da Liga dos Campeões frente ao Paris Saint-Germain.