Poesia pacense, lirismo e romance em terra de gente dura. Exibição notável, seis golos marcados, podiam ser mais, e maior goleada da Liga igualada. Meia dúzia do Paços ao anémico União da Madeira, meia dúzia aplicada pelo Benfica ao Belenenses a 11 de setembro.

Torrente demencial de golos e futebol, enxurrada de arte, executantes de primeira água.

Bruno Moreira, ponta-de-lança de profissão, dois golos e ainda um penálti atirado ao ferro; Diogo Jota, malabarista da bola, uma assistência soberba para golo de Moreira e um golo dele próprio; André Leal, Andrezinho para os amigos pacenses, autor também de um golo e um passe geometricamente perfeito para o golo de Jota; Christian, especialista em bombas, minas e armadilhas, causador do enorme erro de André Moreira, no 5-0; Romeu, o homem sombra, o médio que aparece na hora do trabalho e desaparece nos instantes de brilho.

Desaparece? Nem sempre, na verdade. Aliás, foi Romeu provocar o primeiro impacto na frágil estrutura do União.

DESTAQUES DO JOGO: Jota, Moreira, André... é só escolher

A doença começou num canto mal defendido – e aproveitado por Romeu – antes de se espalhar por todos os momentos do jogo, de forma irreversível para o União e irrecusável para o Paços.

De um lado um 4x2x3x1 a flutuar entre o tempo e o espaço, com peças permanentemente bem trocadas, futebol de passe curto e apoiado em triangulações perfeitas.

Do outro o mesmo 4x2x31, atordoado e confundido. Estanque. Jogadores aturdidos, desesperados com o avolumar do resultado, uma equipa caída em desgraça na noite pacense.

FICHA DE JOGO E NOTAS AOS ATLETAS

O que mais poderia ter feito Luís Norton de Matos? Bem, se as regras o permitissem, tirar 11 e meter 11. Não é possível. Assim, o técnico mudou dois elementos ao intervalo – Élio Martins e Miguel Fidalgo para o jogo, Danilo Dias e Breitner para o duche quente – e esperou que o 3-0 fosse ainda atenuado.

Poucos minutos depois, percebeu que isso seria impossível: Diego Galo deu mão na bola e penálti (marcado por Bruno Moreira), André Moreira cometeu um erro gigantesco (o único) e Christian chegou ao 5-0.

Cinco minutos após o recomeço, mais dois golos e a vergonha a tomar conta das almas madeirenses.

Raras vezes se vê na I Liga um jogo tão desequilibrado. O Paços tem conjunto, soluções e futebol para pensar em lugares de acesso às provas da UEFA; o União, pelo menos este União, tem mais defeitos do que virtudes, mais limitações do que armas.

Uma coça das grandes, num relvado do principal escalão nacional. É raro ver-se coisa assim.