Mais pontos, melhor ataque, melhor defesa, líder desde a primeira jornada... O FC Porto venceu o Vitória e vira o campeonato isolado no comando, algo que não acontecia desde 2010/11, com André Villas-Boas.

Este 4-2 é bem diferente do 4-0 com que os vimaranenses foram brindados, há menos de um mês, quando foram eliminados da Taça de Portugal.

O jogo foi bem diferente e o FC Porto regressou às origens, ao 4-4-2 do início da temporada com Óliver Torres a fazer companhia a Danilo na zona central do meio-campo. O «miúdo» espanhol não era titular na Liga desde a jornada 5 do campeonato (receção ao Desp. Chaves).

Aproveitemos a deixa para atalhar por aqui: o «Dia de Reis» foi na véspera, mas esta noite o FC Porto decidiu oferecer 45 minutos inteirinhos ao Vitória, que não só ganhou o meio-campo na primeira parte como saiu sucessivamente com perigo nas transições ofensivas, por Raphinha, Hurtado ou Heldon – o trio de «ciclistas» nas costas de Tallo.

Num destes lances, surgiu o golo vimaranense: Raphinha apareceu veloz nas costas de Ricardo e Reyes a desviar de pé esquerdo para o fundo da baliza. 1-0 e o Dragão gelado.

A primeira parte do FC Porto foi um filme negro, soturno, sem chama. Corona, a repetir a exibição desastrada da Feira, perdeu a bola mais de uma mão cheia de vezes. Toda a defensiva portista revelava uma tremedeira que não se via desde os tempos de José Peseiro.

FC Porto-Vitória Guimarães, 4-2: ficha e filme de jogo

Lá na frente, Brahimi, demasiadas vezes a jogar pelo meio, só criava verdadeiro desequilíbrio quando se colava à ala esquerda e fazia gato-sapato de Víctor García e de quem mais lhe aparecesse pela frente – apesar de falhar o último passe.

Assim chegou o intervalo, com o Vitória a conquistar o Dragão com um futebol simples e direto e com mérito na vantagem no marcador.

A verdade é que o dragão acordou ao intervalo. E, ainda que meio estremunhado, entrou na segunda parte bem mais vivo e em cinco minutos criou mais oportunidades do que na primeira metade do jogo. Douglas calou o grito de golo que parecia selado na cabeça de Aboubakar aos 50’.

Não foi com a cabeça? Então, o camaronês empataria com o pé direito. A cruzamento de… Corona, na única ação verdadeiramente eficiente do mexicano na partida.

Acordadíssimo, «Abou» tratou de acordar o Dragão, que, novamente com mais de 40 mil na bancadas, entrou em ebulição e empurrou a equipa para a frente. O animal mitológico ganhou asas e o resto é como nas mais intrincadas tramas: a determinado momento, aparece o herói a roubar a cena e a colorir a tela.

Brahimi, o suspeito do costume, olhou para o relógio, viu uma hora de jogo já passada e decidiu soltar o génio: pediu a bola Telles, entrou na área, driblou, deixando o Jubal nas covas, e picou sobre Douglas.

FC Porto-Vitória de Guimarães: destaques do jogo

Delírio no Dragão. Plot twist completado. Ao 100.º jogo na Liga, o argelino voltou a fazer jus à condição de cabeça de cartaz e como que traduziu com os pés a expressão de crença e revolta que havia vociferado a meio da semana na Feira – e que os adeptos adotaram instantaneamente: «Vamos ganhar!»

Marega, que acompanhou Brahimi na expressão na passada jornada, não quis deixar de o voltar a fazer em campo também nesta. No espaço de quatro minutos, o franco-maliano bisaria para sentenciar o triunfo azul e branco: primeiro de cabeça, aos 79’, depois com um desvio de pé direito, aos 83’, ambos a cruzamentos da direita.

Entre um momento e outro, Brahimi sairia de cena, para receber o abraço a Sérgio Conceição e as vénias do público. Já depois disso, Heldon ainda reduziria para os vitorianos, colocando um 4-2 que traduz maior justiça no marcador.

45 minutos de desinspiração e quase outro tanto de magia. A equipa de Sérgio Conceição terminou o jogo a fazer o «V de Vitória» e cumpre uma primeira volta notável em que só perdeu seis pontos (deixando Sporting a dois e o Benfica a cinco).

Se fizer segunda volta parecida, ambição que Conceição mostrou no final, será difícil ver o título escapar.

Para já, os azuis e brancos bem podem inspirar-se neste tema de Tiago Guillul e Joaquim Albergaria e, com meio campeonato cumprido, saírem esta noite do Dragão a cantar: «Uma volta dada p’rá muralha cair.»

Veja o resumo do FC Porto-Vitória de Guimarães, 4-2: