Lima respira fundo. Aos 28 anos pode dizer-se que concretizou a ambição de criança: é um jogador famoso. Do outro lado do Atlântico, dona Maristela emociona-se. A vida não é fácil para uma criança nascida na pequena cidade de Monte Alegre, no distante e amazónico estado do Pará.

«Ainda ontem comentava com ele por telefone», começa por dizer ao Maisfutebol. «No domingo, enquanto estava na missa, lembrei-me de tudo o que ele passou. De todos os sacrifícios que fez. Lembrei-me do dia em que ele me ligou a chorar: mãe, você faz anos e eu não tenho dinheiro para lhe enviar uma prenda

A história de Lima, no fundo, moldou-lhe o jeito para jogar futebol. Pode ver-se no temperamento. Combatente, esforçado, valente. «Eu respondia que não fazia mal. Que um dia ainda ia ser rico e dar-me prendas. Quando começou a ganhar dinheiro, no Paraná Clube, comprou-me uma casa.»

O que remete para o início do texto: Lima respira fundo.

O Cabeça, pai-de-santo do Vizela

Cláudio (Gil Vicente) conheceu-o quando tentava impor-se no futebol. Era um jovem. Tímido e com muito acne. As borbulhas deixaram marcas que ainda se notam e que na altura o tornavam mais reservado: pouco saía de casa. Passava o tempos entre a televisão e a playstation. A amadurecer o sonho.

Hoje sente que chegou enfim onde sempre quis. «Com nove ou dez anos já dizia que um dia ia ser um jogador de futebol famoso no estrangeiro.» Carioca foi o primeiro treinador num clube a sério e reitera as palavras da mãe. «Apareceu-me aqui com 16 anos e só falava em ser famoso», conta.

A vida do melhor marcador da liga deu de resto muitas voltas. Na origem de todas elas esteve um nome: Coronel Nunes. É o presidente da federação de futebol do Pará e é também tio de Lima. «Com 16 anos levei-o para o Paysandu. Apostei que ele ainda ia ser um grande jogador», lembra.

A obsessão que vem de longe

O avançado começou a jogar na rua e deu os primeiros pontapés a sério no pequeno São Francisco Sport. «É um clube aqui de Monte Alegre, para onde foi jogar com onze anos», diz a mãe. «Foi com o irmão gémeo Roberto, que nunca levou o futebol tão a sério. Não foi tão determinado.»

No Paysandu LIma foi campeão e deu o salto. «Fez um ataque demolidor com outro miúdo, o Waldir, que também fez um carreira bonita. No final do segundo ano veio cá o Paraná e pagou para levar os dois.» Lima era um júnior. Mudou de estado e foi para longe da família. Tornou-se um goleador.

«Na altura já era bom, mas hoje está muito mais forte. Muito potente.» Toda a gente se surpreende aliás com a força de Lima: a massa muscular é admirável. «Sempre foi muito saudável, nunca teve doenças», diz a mãe. «Sai ao pai. Já o irmão gémeo também é assim forte», adianta o tio.

Como é que ele faz os golos?

A mãe acrescenta outro pormenor. «Sempre teve cuidado com ele e orientou-se para o futebol. Com nove anos, jogava com rapazes de treze. Eu não deixava, mas ele e o irmão fugiam. Ia para o campo e ficava da parte de fora a defendê-los. Discutia com os mais velhos. Muitas vezes brigava mesmo.»

«Deu-me muitas dores de cabeça. Jogava descalço e um dia rasgou o pé. Outro dia teve uma luxação na clavícula. Mas voltava. Dizia sempre: mãe, só com os mais velhos fico mais forte.» A determinação levou-o longe. Disputou aliás duas Libertadores: uma no Santos e uma no Paraná.

Foi em Portugal, no entanto, que Lima atingiu o estrelato. «Quando ele foi para o Belenenses, disse-lhe que tinha de ir a Fátima. E ele foi. Graças a Deus adora Portugal e quer acabar aí a carreira.» O tio vai mais longe. «Gostava que ele fosse à seleção portuguesa. Pode ser um novo Deco.»