*Enviado especial ao Brasil

«Alô Brasil» é o Diário de Bordo de João Tiago Figueiredo, enviado especial do Maisfutebol ao Mundial 2014, no Brasil 

Dia 7: os problemas de comunicação

Confesso que estou a ficar farto de ir andando. Quero andar. E também de ir comendo. Quero comer, já me chega bem. 

Esta overdose de gerúndios é apenas a ponta do iceberg. Aquela ideia de que portugueses e brasileiros falam a mesma língua não é assim tão verdade. É parecido, de facto, mas basta uma semana no Brasil para perceber que é também muito diferente.

Se digo equipa, perguntam «como?» Time, perdão. Se falo da relva, respondem «a quê?». Grama, queria eu dizer.

Não é casa de banho, é banheiro. Não há autocarros por estes lados, mas há umas máquinas em tudo iguais, chamadas ónibus.

No fundo, naquele célebre anúncio do pimbolim, Scolari não mostrou apenas que era mau ator: isto é mesmo assim. Nós já sabíamos (agradeçam às telenovelas), eles não fazem ideia.

E com a abundância de turistas de todos os cantos do mundo, só piora. Estou tão baralhado que já falo em inglês com brasileiros, em português com espanhóis, em espanhol com ingleses. Umas vezes só aponto, até que chega a ideia chave: caramba, estás no Brasil, fala português!

Falar devagar é regra. Em qualquer português no Brasil há um Vítor Gaspar em potência. Quanto maior for a frase, mais devagar é preciso dizê-la. Para depois levarmos com uma resposta com quatro sílabas comidas a cada palavra e que nos obriga a montar um puzzle de sons até perceber o que veio do lado de lá.

O problema está, de facto, no número ainda grande de palavras que só existem num dos países. Ou até nas que existem nos dois.

Numa corrida de táxi, dizia o motorista que tinha um colega português e que costumavam gozar com ele porque ele tinha o hábito de dizer a palavra «bacana» quando gostava de alguma coisa. «Que palavra é essa, bacana?», ria o taxista.

Verdade. Depois de fado e saudade não há nada mais português do que bacana.

Somos países irmãos, mas o caçula tem dicionário próprio.