«Chegámos com a equipa a 13 pontos do líder, saímos em plena luta pelo título e agora o FC Porto está à mesma distância que estava à nossa chegada.»
Julen Lopetegui decidiu vir a público rebater algumas acusações de Jorge Nuno Pinto da Costa. Fê-lo em duas entrevistas programadas, no mesmo dia, para a RTP e o jornal AS. Curiosamente, a conversa para Espanha foi conduzida por aquele que parece ser o seu jornalista predileto: Aritz Gabilondo.
Comecemos por aí. Custa-me apontar o dedo a um colega de profissão mas Gabilondo parece não raras vezes a voz de Lopetegui nos períodos de silêncio do antigo treinador do FC Porto. Prestou-se a considerações sem o necessário fundamento e assentes no que seriam os pensamentos não assumidos pelo seu compatriota.
Eis um pequeno exemplo: Pinto da Costa disse que Suk (ex-V. Setúbal) era o grande desejo do treinador espanhol para o centro do ataque. Curiosamente, o presidente azul e branco tinha dito pouco antes que Julen Lopetegui pretendia apostar em André Silva para substituir Dani Osvaldo. Desconfio de uma e outra coisa. Acredito, isso sim, que o desejo passava por um craque para servir de alternativa a Aboubakar.
Lopetegui nunca esclareceu a questão. Mas basta ver esta referência de Aritz Gabilondo nas redes sociais.
El Oporto sin Lopetegui: a 6 puntos del Benfica y 4 del Sporting, fuera de la Europa League y con Suk Hyun-Jun de delantero. #LigaNOS
— A. Gabilondo (@AS_AGabilondo) 6 de março de 2016
Já na época passada, o jornal AS tinha servido para lançar argumentos em torno da Liga portuguesa. Entretanto, com a saída de Julen Lopetegui, aceitou servir de panfleto de propaganda numa guerra muda.
Pinto da Costa falou. Lopetegui reagiu. Algures no meio entre as posições assumidas pelos dois estará a absoluta verdade.
Como Rui Pedro Braz enumerou e bem no programa Maisbastidores da TVI24 – creio que nem se torna necessário ir mais longe, o vídeo está aqui -, o treinador espanhol moldou factos para garantir que estava a fazer um trabalho de grande qualidade no FC Porto.
Nas duas entrevistas, Julen Lopetegui lembrou ainda que o clube portista terminou a época 2013/14 a 13 pontos do líder Benfica (ficando na terceira posição) e prepara-se para acabar 2015/16 num cenário semelhante. Pelo meio, é verdade, lutou pelo título.
O que o treinador não consegue explicar é o seguinte: se o FC Porto está pior desde a sua saída – como está – e estava em posição favorável em quatro competições – não estava – porque é que foi despedido?
Pior ainda, e creio ser esse o melhor barómetros em torno da popularidade de Lopetegui em Portugal, porque é que a maioria dos adeptos do clube portista não contestou a decisão da estrutura? Aliás, mesmo agora, com os dragões no terceiro lugar, é raro encontrar alguém que lamente verdadeiramente a saída do técnico. Lamentam apenas, acredito, o timing e o nome do sucessor.
E porquê?
Sem entrar na vertente desportiva, nos momentos bons e nos momentos maus – com responsabilidades partilhadas entre quem decidiu e quem permitiu as decisões – é importante salientar que Julen Lopetegui teve o condão de se incompatibilizar com todos à sua volta.
Em ano e meio de estadia em Portugal, o antigo guarda-redes estragou a relação com a comunicação social (era penoso acompanhar as conferências de imprensa do técnico), adeptos do FC Porto e diversos elementos da própria estrutura azul e branca.
Aliás, creio que esse foi o fator decisivo para o seu afastamento com a época a decorrer, sabendo-se que esse passo iria provavelmente comprometer as aspirações da equipa. Por essa altura, mesmo com os dragões perto da liderança, já poucos no clube tinham paciência para o humor do técnico.
O FC Porto mantém o seu percurso errante, com claras responsabilidades da estrutura, sem que este jornalista resista à tentação de finalmente escrever uma consideração sobre Julen Lopetegui.
Não o fiz antes por uma questão de boa educação e benefício da dúvida: seria aquela a real face do treinador, ou apenas a sua imagem para o exterior num ambiente que a propicia?
Após este par de entrevistas dissiparam-se as últimas dúvidas: o técnico basco é mesmo assim. Altivo, superior, incapaz de autocrítica. Mentiroso? Factos são factos, cada um tire as suas conclusões.
A minha conclusão é inequívoca: nunca percebeu onde estava, não se quis adaptar à realidade e ninguém por cá tem verdadeiramente saudades de Julen Lopetegui. O que acaba por ser espantoso perante o seu 'excelente' registo no FC Porto.
Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)