PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«CALMA MENINOS, É APENAS FUTEBOL» – Cléber Almeida.
Curta metragem cuja simplicidade nos remete direitinho aos dias de liberdade da nossa infância.  Filmada no Brasil, e na zona leste de São Paulo, mas refletora dos campos onde passávamos horas a fio, sem ponta de cansaço ou sinais fastidiosos.

O filme surge como contraponto aos milhões empenhados na organização do Mundial. Sublinha a assimetria entre pobres e ricos, entre relvados da FIFA e genuínos descampados.

O nome da película captou-me a atenção. É apenas futebol, sim, mas foi o mítico Bill Shankly a colocar o desporto-rei num patamar equivalente às questões de vida ou de morte. Ou a algo ainda de maior relevo.

A simplicidade idealizada nos 3m42 segundos de imagens é reconfortante. Puxa o futebol para a rua, devolve-nos a magia do pé descalço, do amigo gordo na baliza e do malandro de bola debaixo do braço.

O Mundial vai ao Brasil, sim, mas é importante sublinhar que a essência desse país extraordinário está nestas peladas de rua. Tal como em Portugal, de resto.

Percam alguns minutos e recordem os tempos em que valia a pena acordar cedo, engolir o pão com tulicreme, o leite morninho e fugir a correr da avó. T-shirt justa, calções de tactel, sapatilhas  brancas tapadas pelo pó da nossa terra batida.

Calma menino(s), isto é apenas futebol. Sim, é. Mas nós amamo-lo, certo? 



PS: «Downton Abbey» - Julian Fellowes.
Extraordinária recriação dos dias da Inglaterra no dealbar do século XX. A riqueza do guarda-roupa e dos cenários, a profundidade dos diálogos, o maniqueísmo vigente na destrinça entre lordes e criados, tudo obedece a um inatacável realismo. É um produto obrigatório para quem gosta de séries de época, inteligentes e sempre disponíveis para a fleuma e o bom humor.     

SOUNDCHECK:

«EL ROCK DEL MUNDIAL» - The Ramblers.
Não suporto imaginar o Mundial-2014 sem Portugal. Não suporto. Quero sofrer livremente como um adepto, contar os segundos até à estreia da Seleção Nacional, desenhar na minha mente os 23 convocados por Paulo Bento e repetir à exaustão o hino da prova.

Enquanto esperamos todos pela decisão de Estocolmo, deixo-vos esta pérola: a primeira música escolhida pela FIFA para tema oficial de um Campeonato do Mundo. Chile, 1962. Deliciem-se com as imagens, as notas e o castelhano açucarado dos The Ramblers.

«A los equipos extranjeros demostraremos buen humor
Y como buenos chilenos, hidalguía y corrección
Y aunque sea en la derrota bailaremos rock and roll

Tómala, métete, remata
Gol, gol de Chile
Un sonoro C H I
Y bailemos rock and roll».

Tão bom.  



PS: «AM» - Arctic Monkeys.
A definição de Alex Turner, vocalista e líder da banda inglesa, é desconcertante. «O álbum soava como uma batida do Dr. Dre, por isso demos-lhe um toque de Ike Turner e enviámo-lo a galope de uma Stratocaster (modelo de guitarra) pelo deserto». 

Loucuras à parte, o quinto trabalho de estúdio dos putos de Sheffield é um dos grandes discos do ano. Do enérgico, cru e ingénuo Whatever People Say I Am, That's What I'm Not (2006) pouco resta, mas neste caso isso é uma boa notícia.    



VIRAR A PÁGINA:

«UNDISPUTED TRUTH» - Mike Tyson.
O homem lutava sob influência de drogas, usava um pénis falso em controlos anti-doping, tinha mais sexo na prisão do que um sultão ninfomaníaco, enfim, é uma lista de feitos prodigiosos e pouco recomendáveis. As vendas têm sido notáveis e a autobiografia do antigo pugilista ameaça quebrar todos os recordes.

O Maisfutebol, aliás, já publicou dois artigos sobre o livro: pode lê-los AQUI.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.