O PCP define a rutura com a troika como «questão central» e «condição determinante» para construir uma alternativa de esquerda, processo que passa ainda pela «denúncia das responsabilidades do PS» e pela «convergência e cooperação» com outras «forças e setores».

«A questão central da saída para a "crise" no interesse dos trabalhadores e do povo é inseparável da rutura com a política de direita e com o pacto de agressão [o memorando da ajuda externa]», lê-se no Projeto de Resolução Política (Teses) aprovado pelo Comité Central comunista no fim de semana, a que a agência Lusa teve acesso.

O texto é publicado hoje no jornal «Avante!» e a versão final será votada no XIX Congresso do partido, que se realiza em Almada entre 30 de novembro e 2 de dezembro.

A necessidade de rutura com o acordo assinado com os credores internacionais (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) é constantemente sublinhada no documento.

Este insiste em que, passado um ano e meio de aplicação do programa de ajustamento financeiro, «Portugal está mais endividado e dependente» e enfrenta uma recessão económica «sem precedentes», o aumento «exponencial do desemprego» e o «empobrecimento da generalidade da população».

Para os comunistas, a situação do país é, porém, fruto também de mais de 30 anos de «política de direita», seguida pelo PS, PSD e CDS-PP. Aliás, insistem, o memorando assinado com a troika deu «continuidade» a essa mesma política.

O PCP defende por isso a «urgência de uma rutura com esta política» e a «retoma dos valores libertadores de Abril» para a construção de uma «alternativa política patriótica de esquerda».

A construção dessa alternativa, defende o partido, «reclama a convergência e cooperação com as forças, setores e personalidades democráticas que, séria e convictamente, estejam empenhados na rutura com a política de direita».

Mas, para o PCP, essa alternativa «é ainda inseparável da denúncia das responsabilidades do PS na prossecução do ataque contra direitos e conquistas de Abril e, no concreto, no pacto de agressão que destrói o país».

«Percurso incoerente» do BE

O Bloco de Esquerda merece também uma referência nestas Teses, que destacam a «perda significativa» que o partido teve nas legislativas de 2011, numa «penalização por um percurso incoerente». O PCP acusa ainda o BE de ter uma «inaceitável arrogância e indisfarçável disputa com o PCP».

Na construção da alternativa política de esquerda é ainda essencial e determinante, para o PCP, o alargamento da «luta de massas», o que, aliás, sublinham, já está a acontecer, com «um amplo e cada vez mais vasto conjunto de camadas, setores e grupos sociais», para além da «classe operária e dos trabalhadores», a participarem, «de forma crescente» na «luta» contra as políticas do Governo e o memorando da troika.

«É necessário que o partido tome as medidas de organização, de intervenção política e institucional, com a defesa de propostas justas e progressistas para estes setores e problemas, a par da indispensável multiplicação e intensificação da luta de massas e da cuidada atenção à sua convergência», acrescentam.

A nível institucional e eleitoral, o PCP estabelece como objetivos para todas as eleições previstas para os próximos quatro anos o «reforço» da sua representatividade.

Nas autárquicas de 2013, em concreto, pretende aumentar o número de presidências de câmaras e freguesias. E para as presidenciais de 2016, o objetivo é apresentar «uma intervenção própria».