O selecionador olímpico, Rui Jorge, concedeu nesta quarta-feira uma entrevista coletiva aos órgãos de comunicação social. Foi num ambiente mais descontraído, na Cidade do Futebol, que o técnico abordou todas as questões relativas à equipa que vai levar aos Jogos Olímpicos.

[pergunta] A equipa vai com menos pressão pela situação vivida?

[Rui Jorge] «Pressão existe sempre, estamos a representar o país numa grande competição. É natural que as expectativas não sejam as mesmas. Eles vão querer provar que a minha lista de 35 estava errada.»

Os JO são no início da época, ao contrário das outras fases finais. É muito diferente preparar nestes termos, com os atletas ainda sem estarem em forma?

«Nunca o senti como treinador, é uma novidade para mim. Foi de facto difícil, havia jogadores que quatro dias antes nem sabiam que iam cá estar. Temos jogadores que estão em estágio há três semanas, outros estavam a treinar individualmente. Mas ninguém aparece aqui com a forma física descurada. Não vem para aqui ninguém com quatro quilos a mais. »

André Martins está sem clube, como está a situação dele na equipa?

«Falei com ele antes de o convocar. Precisámos de um jogador com determinadas características, em torno do que o André pode trazer. Está sem clube, não é o ideal, mas estava a treinar.»

Não passar os grupos será, ainda assim, um falhanço?

«Falhar é não ter o comportamento que queremos. Não vou pelo resultado. Quantificar o resultado, para mim, não é o mais importante.»

Vai saber melhor se conseguir um bom resultado no Rio de Janeiro?

«Sabe sempre bem. Não nos vamos fazer de coitados. Houve esta situação, mas acabou. Foi um problema, mas estes jogadores sabem o que lhes exigimos. Agora, os triunfos sabem sempre bem. »

No jogo com o México, nos Açores, o Ricardo Horta chegou a fazer três posições. A polivalência era algo a ter em conta? Este grupo tem esse requisito?

«Pensamos em tudo isso. Inicialmente, essa era a ideia. A partir de uma altura já não. Dizíamos: «É defesa? Vem para aqui.» Um dos requisitos era que tivesse trabalhado connosco, mas alguns jogadores possuem isso [capacidade de fazer mais de um lugar em campo].»

O ambiente no Brasil também vai ser diferente, com os jogadores a ficarem na confusão da Aldeia Olímpica e de tudo o que isso pode implicar [clique aqui para perceber melhor]. Vai ter de ser um sargentão no Brasil?

«Quando se fala na confusão da Aldeia Olímpica, fala-se de muitas coisas. Normalmente, na seleção os jogadores têm hotel, quarto, há uma ementa que fazemos. Lá, se quiserem bolo de casamento, vão ter bolo de casamento. Ou seja, tem de haver responsabilidade da parte deles. Acredito que aqueles que já estiveram comigo, se lhes disser para não comerem bolo, não comem. Ou pelo menos fica-lhes mais difícil. Acredito que os jogadores querem agradar ao treinador, mas não vou estar de plantão. Hoje até vamos ter o Arnaldo Abrantes e o Nuno Delgado cá, para nos falarem um pouco do ambiente e de como se vive na Aldeia Olímpica.»

O que espera dos três adversários, Argélia, Argentina e Honduras, na fase de grupos?

«Não espero nada porque ainda não sabemos nada deles. Posso dizer aquelas coisas comuns, a Argentina é sempre candidata e bla, bla, bla. Posso dizer que as Honduras era uma equipa forte.»

O facto de Neymar jogar pelo Brasil, coloca-os num outro patamar?

«Quem não teve limitações a selecionar, vai apresentar-se mais forte. O Brasil nunca venceu a Medalha de Ouro e joga em casa, abdicou do Neymar na Copa América para o ter nos Jogos Olímpicos. Será sempre uma equipa forte.»

Portugal jogou muitos anos em 4x3x3, agora vemos a seleção principal em 4x4x2. Podemos pensar em ver a equipa num 4x4x2?

«Cheguei em novembro de 2010 à federação e acho que logo no segundo jogo joguei em 4x4x2 losango. Vejo como forte alternativa usar um 4x4x2, seja clássico ou losango.»

No Euro 2016, a seleção melhorou quando jogou com o meio-campo do Sporting. O Rui Jorge tem três médios do FC Porto, a lógica pode ser a mesma?

«Sobre a primeira parte da pergunta não me pronuncio. Temos o Tomás, o Chico (Francisco Ramos) e o Sérgio (Oliveira). São do FC Porto. Mas só se for pela cor, porque o Sérgio está na equipa A e o Tomás esteve na B…»

Na sequência desta última questão da formação e entrosamento, e até tendo em conta que Portugal é campeão europeu de sub-17, vice em sub-21, está numa meia-final do Euro de sub-19…pode falar-se de uma matriz de jogo portuguesa?

«O jogador português tem qualidade individual e tem compromisso coletivo. Beneficiámos muito das equipas B. Reflete-se também nos escalões mais baixos. Temos tido alguma vantagem com essas alterações. Os resultados aparecem à cabeça, mas os campeonatos europeus não se disputam da mesma forma. Acredito que temos feito um bom trabalho, mas não se pode ver apenas pelo resultado.»

Fernando Santos renovou com a federação e fica mais quatro anos como selecionador nacional. Que comentário lhe merece?

«Fico satisfeito. Gosto dele como pessoa e como técnico. Espero estar com ele pelo menos até final de 2017.»

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