Tal como o título do Benfica saiu muito do que vale Jorge Jesus, também a Taça tem muito mérito de Marco Silva. E não é só de hoje: o técnico segurou quase sempre o Sporting na luta quando parecia que não havia mais por que lutar.

Depois de um ano difícil, os leões tinham na conquista da Taça de Portugal a fronteira entre uma época bem razoável e o insucesso completo. O historial favorecia-os, do outro lado estava um Sp. Braga ainda a aspirar por se consolidar no patamar dos grandes do futebol português. Não seria, no entanto, uma confirmação natural da sua superioridade, tinha de ser ainda mais difícil.

Não bastavam já as dificuldades com que já se debatia desde o primeiro dia da temporada uma equipa espremida e curta, com poucas soluções para lá do onze foi preciso ficar com menos um em campo e a perder por 2-0 frente a um rival incómodo e que, com o golo de Rafa, ainda se sentiu mais na sua praia: na expetativa, a sair em velozes contra-ataques.

E quem achava que já era suficiente estava rotundamente errado: ainda podia ser pior. Havia ainda que ver Rui Patrício a defender o remate de Salvador Agra, a lesionar-se e a ter ainda de voar – com as substituições esgotadas para defender um penálti no desempate. E foi o que aconteceu.

Marco Silva não inventou a roda. Fez o que podia, mais ou menos o que se esperava. Perdeu Cédric, apostou em Miguel Lopes para refazer a defesa. O segundo lateral falhou depois no segundo golo – embora não tenha sido o único , e acabou por sair no último assalto à baliza bracarense, com Montero. Trocou antes Carrillo com Mané, muito apagado.

O grande mérito do técnico foi ao ver os seus homens cair ter ele força para ajudá-los a levantar-se. Reduzidos a dez, a perder por dois, com as costas desprotegidas para os contra-ataques, Marco Silva continuou a dizer-lhes, repetidamente, que era possível. E era.

Claro que foi possível com felicidade. Com o erro de Kritchiuk na primeira jogada, e a passividade de Aderlan Santos e o ressalto de Montero perante o guarda-redes russo já no quarto minuto de descontos. Depois, com os penáltis. Aquele remate demasiado ao ângulo de Adrien, a defesa de Patrício, os erros novamente dos minhotos dos 11 metros...

Sobretudo, o Sporting foi sempre mais forte mentalmente, e isso foi plantado desde o banco. É uma vitória épica, apesar de todos os incidentes.

A conquista da Taça surge no final de uma semana boa, em que os leões declararam 22 milhões de euros de lucro e mostram ter o fair-play financeiro praticamente controlado. Nas contas, o Sporting luta pelo título, embora não possa perder de vista o lado competitivo, em que parece estar longe dos grandes rivais. E, além da questão do plantel, há que ponderar bem se valerá a pena arriscar um futuro sem Marco Silva, que fez um trabalho bem mais do que digno.

Uma palavra para os Sub-20, que se apresentaram competentes e sérios
no Campeonato do Mundo. André Silva, Guzzo, Rony Lopes, Gelson, Gonçalo Guedes e companhia mostraram que podemos contar com a Seleção para um bom Mundial e, sobretudo, para o futuro do futebol português. Basta manter a mesma atitude, porque o talento vê-se a muitos quilómetros de distância.

O Benfica conquistou também mais uma Taça da Liga frente a um bom Marítimo, bem trabalhado por Ivo Vieira e com alguns jogadores a mostrar muita qualidade, como João Diogo, Marega, Xavier e Danilo. Os encarnados acabaram por levar a melhor, muito por culpa da classe de Jonas e da boa entrada de Ola John. E, apesar da boa réplica, o triunfo foi justo. Jorge Jesus, com o sucesso de Coimbra, entrou ainda mais na história do emblema da Luz, e os próximos dias prometem ser de muita discussão em torno do seu futuro. 

Só deixo a pergunta que se calhar todos fazem: fará neste momento sentido um futuro sem Jesus?

Messi marcou mais um golo fabuloso e o Barça parece caminhar para o triplete, apesar de ainda ter pela frente uma sempre perigosa Juventus. A época começou tremida, mas a Pulga voltou a reservar a próxima coroação para o Olympiastadion de Berlim. Felizes de nós que continuamos a viver história a ser escrita todos os fins de semana.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».