Adrien Silva diz que as pessoas estão enganadas: jogar futebol não é fácil. Nesta entrevista o médio do Sporting fala da mudança para a Academia, onde chegou quando tinha 12 anos, há 14 anos, portanto, e das dificuldades que encontrou em Lisboa.
 
Está no Sporting desde os 12 anos. Fez muitos sacrifícios para chegar onde chegou?
Sem dúvida. Muitos. Não há facilidades para singrar no futebol, ao contrário do que as pessoas pensam. Muito suor, muito trabalho e algumas lágrimas.
 
Foi difícil em que aspeto?
Em todos os aspetos: desportivos, sociais e familiares. Chegar a este patamar é um orgulho enorme. Durante estes anos todos na Academia vi muitos rapazes a passar e muito pouca gente conseguiu furar. Felizmente consegui e estou muito orgulhoso por isso. É um orgulho enorme fazer parte desta grande família que é o Sporting.
 
Custou muito deixar a família aos 12 anos em Arcos de Valdevez e vir para tão longe sozinho?
Foi um dos pontos mais difíceis. Um ano antes tinha acabado de deixar a família e os amigos em França e oito meses depois o Sporting foi buscar-me, mudar-me de cidade, não propriamente para perto. Foi mais um sacrifício para fazer, mas a vida é assim.
 
Nesse processo todo chegou a pensar em desistir?
Sim, com 12 anos não temos a mentalidade que temos aos 15 ou 16. Não somos tão fortes psicologicamente e muitas vezes fui-me abaixo. Nesse aspeto tenho de agradecer muito à minha família: foram eles que me agarraram quando estava a cair.
 
Foi pela família que nunca desistiu?
Sem dúvida. Houve momentos difíceis, momentos muito difíceis. Sozinho, com 12 anos, cheio de saudades da família. Via os outros miúdos da minha idade a ter uma vida normal, acabavam o treino iam para casa, com os pais, podiam estar com os amigos, podiam festejar os anos dos familiares, que para mim, naquela altura, não era possível. Foi difícil.
 
O Adrien vivia onde, na Academia?
Sim, sim. Desde os 12 anos, que é quando se pode entrar, que integrei a Academia em Alcochete. Foi o primeiro ano em que abriu.
 
Quando sentiu que era realmente um miúdo especial na Academia?
Com 15 ou 16 anos, apenas. Até lá via que era titular, era capitão de equipa, sentia que era importante, mas não pensava em chegar aos seniores. Era o presente: era o gosto de jogar futebol todos os dias, de treinar todos os dias. Mesmo quando não havia treinos, íamos para os campos da Academia brincar e era sempre bola, bola, bola.
 
Aos 12 anos jogar futebol deixa um miúdo feliz, não é?
Claro. Por isso é que também nunca desisti.
 
E quando sentiu que podia chegar ao nível que chegou?
Acho que todos nós temos de ter confiança que podemos chegar lá, mas também temos de criar as condições para que isso aconteça. Esse foi sempre o meu pensamento. Eu repito isto muitas vezes, mas é a verdade: o meu pai incutiu-me sempre a mentalidade de nunca relaxar, nunca estar satisfeito com o que já conquistámos. Mesmo sendo capitão em todos os escalões, obrigou-me a pensar que havia sempre coisas para melhorar.

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