Foi a prova dos nove para o Nacional. A equipa da Madeira teve a eliminatória nas mãos mas comprometeu a sua própria felicidade. Resolveu o jogo, mutilou-se, perdeu dois membros, consentiu o embate e subsistiu até às penalidades. A equipa de Pedro Caixinha soube sofrer. Está nas meias-finais da Taça.

Eram 23h02 quando o Moreirense caiu. De pé. Perdeu a lotaria de Natal no pé direito de Ghilas. Bateu no poste e tombou. 2-2 em jogo corrido, 7-8 após os castigos máximos.

A eliminatória decidiu-se já depois do prolongamento, perto do dia 24, véspera de Natal. Foi a noite mais longa da história do Moreirense. Com nevoeiro cerrado para o tempo extraordinário, um pouco à moda da Choupana, recorreu-se à derradeira meia-hora para definir o semi-finalista. Em vão. O felizardo saiu da lotaria.

Um jogo fora de horas

O calendário de Moreirense e Nacional, bem como a transmissão televisiva (sobretudo isso), atiraram o encontro para a noite fria de sexta-feira. No Estádio Comendador Joaquim Almeida Freitas, recuperou-se o hábito perdido das noites de primeira. Poucos milhares de adeptos para aquecer o serão.

Os dados estavam lançados mas o Nacional procurou a sua própria sorte e impôs leis desde o apito inicial. Aliás, ao 20º minuto de jogo, a equipa de Pedro Caixinha já tinha dois golos de vantagem sobre o intranquilo adversário.

Duas ofensivas de primeira

Início louco. Diego Barcellos forçou Ricardo Ribeiro a uma enorme defesa, no primeiro remate da partida, e Oliver conquistou um penalty segundos depois. A falta de Pintassilgo parece claro. Claudemir, chamado à conversão, não perdoou.

O Moreirense entrou a perder e desconcentrou-se. Permitiu a clarividência de processos do adversário e o segundo golo surgiu com estranha naturalidade. Diego Barcellos, convertido a médio ofensivo, aproveitou um corte incompleto de Miguel Oliveira para marcar com um belo remate de pé esquerdo.

Sinal vermelho antes do choque

Tudo parecia resolvido. Porém, em cima do intervalo, Edgar Costa decidiu borrar a pintura e encostar a cabeça em Fábio Espinho. A equipa de arbitragem decidiu pela expulsão e, de repente, os locais voltavam a acreditar.

Jorge Casquilha lançou um avançado no reatamento e ganhou a aposta. Bruno Moreira saltou do banco para conquistar um penalty e arrancar o segundo amarelo a Stojanovic.

O lateral tinha sido admoestado segundos antes, por falta clara sobre Wagner, e colocou os ombros nas costas do adversário. Isto num momento em que Vladan tinha o lance controlado. Pode contestar a decisão de Duarte Gomes mas pôs-se a jeito. Fábio Espinho fez o 1-2.

Como tudo mudou. Em dez minutos, entre os quarenta e os cinquenta, o Nacional passou de uma decisão confortável para o sufoco. Perdeu parte da vantagem e dois elementos em campo. O Moreirense, onze contra nova, voltava a acreditar.

Moreira pela felicidade de Moreira

Os últimos minutos foram de emoção intensa em Moreira de Cónegos. Não havia indícios de frio no rectângulo de jogo. Transformara-se numa arena, Nacional na prova dos nove, locais com o coração em cima do adversário, mais paixão que razão. Chegou.

Ao minuto 88, Fábio Espinho fugiu na direita e cruzou ao primeiro poste. Vladan, até então herói do Nacional na Taça, meteu água e largou a bola. Bruno Moreira agradeceu e fez o empate. Tudo em aberto para o prolongamento.

Como seria de esperar, o Moreirense teve mais bola e o Nacional apostou na movimentação inteligente das suas unidades. O desgaste físico fez-se sentir, sobretudo entre os locais. Com isso, equilibraram-se as forças. As grandes penalidades pareciam uma inevitabilidade. Neto ainda acertou na trave da própria baliza, no último suspiro, antes da lotaria.

Ghilas falhou o penalty decisivo. Acertou no poste. Os locais caíram de pé. Eram 23h02.