Como se explica ao plantel que alguns jogos podem não ser para ganhar tanto como outros? Este é um desafio que a grande maioria dos treinadores convive durante as competições durante uma época.

Se observarmos a competição principal de Portugal, somente os três grandes (podemos juntar neste momento um Sp. Braga confiante e com muita qualidade) trabalham com a convicção de que todos os jogos são para fazer os três pontos, uma vez que numa Liga nivelada por baixo, o campeão normalmente ganha a competição com poucos perdidos. Claro que todos os treinadores afirmam que trabalham para vencer, mas também saberão que em dez jogos frente a um candidato ao título ou perante uma equipa que luta para ir à UEFA se a sua luta é não descer  a probabilidade de vencer é baixa.

Esta semana convivemos novamente com um episódio semelhante num dos grandes, o que não é assim tão habitual. Abdicar deliberadamente de um bom resultado numa competição em detrimento de outra. Não foi surpresa nenhuma, dado que Jorge Jesus tem vindo a assumir constantemente que o objetivo principal deste Sporting são as competições internas. E a verdade é que não se deu mal no Benfica com esta estratégia no seu último na Luz. Com um plantel com poucas soluções, o treinador português assumiu que o lençol era demasiado curto para as competições todas e abdicou muito cedo da Liga dos Campeões. Diria que correu bem, porque venceu internamente.

Com um plantel com poucas soluções, Jesus assumiu que lençol era curto para todas as competições»

Mas estas opções, crenças e ações por parte de Jorge Jesus são ambíguas. Aliás, elas apenas deixam de ser totalmente ambíguas quando se vence alguma competição. Neste caso apenas restam duas competições ao Sporting: Liga Portuguesa ou Liga Europa. E o Sporting segue na frente e poderá amanhã ganhar novamente uma vantagem pontual perante o 2.º classificado. Ou seja, a estratégia vai funcionando.

A imagem do desalento depois da derrota com o Bayer Leverkusen

Mas como se gere isto com o plantel? Com os atletas que são lançados às feras europeias para fazer descansar outros colegas para a competição interna. Perceber-se-ia se fosse ao contrário, como é normal. Jogadores mais importantes a descansarem na Taça da Liga ou nos jogos mais acessíveis na Taça de Portugal e para dar tempo de jogo e descanso a jogadores do plantel. Mas pelo contrário, num clube como o Sporting, dotado de um plantel mais rico do que o ano anterior por exemplo, como explicar isto aos atletas? Que técnica usará Jesus para não desmotivar jogadores como Slimani – que provavelmente sairá para uma liga mais forte na próxima época – a ficar no banco frente ao Bayer e a ser a principal arma frente ao Boavista amanhã? Claro que tudo se gere e o plantel sabe que é mais fácil vencer a Liga Portuguesa que a Liga Europa. Mas, mesmo assim, os jogadores gostam de jogar todos os jogos, especialmente os mais importantes.

Será mesmo essa a questão fundamental?

E com que imagem fica um treinador quando assume a todos os níveis que uma competição que traz mais visibilidade do que qualquer outra para os jogadores é para esquecer e que até estraga a gestão do plantel para os outros jogos? Jorge Jesus saiu-se bem uma vez. Nunca saberemos o futuro, apenas enveredamos por um conjunto de ações que nos ajudam a chegar aos objetivos.

A época aproxima-se de uma fase onde é usual o cansaço apoderar-se. E aí Jesus sabe bem como diminuir o possível cansaço. Uma fase da época onde as lesões aparecem com maior regularidade. O treinador do Sporting crê que ao poupar os jogadores diminui essa hipótese. Mas a questão fundamental é possivelmente esta: como é que os jogadores gerem a situação de ver mais uma competição cair, saberem que não fizeram tudo nem de perto nem de longe para continuar em prova e ficarem apenas com o foco de tudo ou nada na Liga?