Não existe um único número que sustente a demissão de André Villas-Boas.

Na Premier League, o clube de Londres está em sétimo lugar. À frente do Manchester United, por exemplo, e apenas a oito pontos do líder.

Na Liga Europa, a fase de grupos foi superada com facilidade.

Villas-Boas tem uma percentagem muito elevada de vitórias no Tottenham, algo que nenhum outro treinador conseguiu num clube que está longe do topo há muitos anos.

Além dos números, o treinador português apresenta também um conhecimento perfeito do plantel, que de resto construiu à sua medida, para isso gastanto mais de 100 milhões de euros, tudo o que recebeu pela saída de Gareth Bale para o Real Madrid.

Se a decisão dos dirigentes do Tottenham não pode, racionalmente, estar relacionada com a campanha desta época, só poderá ser motivada por eventuais problemas de liderança do grupo ou reação emocional à goleada em casa.

É verdade que Villas-Boas tomou algumas decisões que poderão ter tido impacto no balneário. Adebayor deixou de contar, Defoe joga muito menos, Dempsey foi embora e Assou Ekotto foi despachado para o QPR. Chegou muita gente, alguma com nome e bom ordenado, o que provavelmente terá feito oscilar o balneário. Mas não eram conhecidos casos especialmente graves, ao nível do que se passou com Villas-Boas no Chelsea.

Resta a última opção: a reação emocional à derrota em casa.

Eu vi o jogo e a goleada esteve à vista desde antes do primeiro golo do Liverpool. O Tottenham apresentou-se tão mal colocado no meio campo e na defesa que o jogo foi extraordinariamente simples para uma equipa com avançados rápidos como o Liverpool. 

Depois de perder por seis com o Manchester City, o Tottenham encaixou cinco do segundo classificado. Tão ou mais grave do que o número de golos foi a má organização da equipa, também carente de outra alma.

Perder com os grandes de Inglaterra, de resto, é algo que tem acontecido a Villas-Boas com desagradável frequência nestas três épocas. Talvez isso, mais a frágil imagem de domingo, tenha pesado mais do que os números ou um ou dois jogadores de cara fechada.  Mesmo quando ganhou, este Tottenham pós-Bale nunca entusiasmou. Faltou tempo? Provavelmente, até por causa do elevado número de caras novas. Mas Villas-Boas já anda há tempo suficiente nisto para saber como funciona.

Resumindo: despedir Villas-Boas talvez não fosse a melhor decisão. Chega a parecer absurda, a poucos dias da complicada época Natal/Ano na Premier League. Mas percebo que fosse difícil resistir-lhe.

NOTA: e agora? Creio que as portas de Inglaterra, ao mais alto nível, se fecharão por uns tempos. Resta ao treinador português esperar por nova oportunidade de topo em outro país (Itália ou França, provavelmente). Na próxima época. Para já, refletir é a única opção recomendável.