Depois do Adeus é uma rubrica do Maisfutebol dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como passam os seus dias? Confira os testemunhos, de forma regular, no Maisfutebol.

Mawete João Batista, vulgo Mawete Júnior, fez a sua estreia pelo Benfica com apenas 18 anos. Estávamos em setembro de 1999 e Jupp Heynckes dava a oportunidade ao promissor avançado dos juniores numa visita ao Santa Clara (0-3).

O angolano regressaria à equipa principal em 2001, com Toni, e deixaria um impressionante cartão de visita. Dois golos consecutivos, frente a União de Leiria e Santa Clara, a prometer uma dupla ofensiva com o recém-chegado Pedro Mantorras. Mawete, porém, não teve a continuidade desejada e mudou de rumo.

Um grito que não se esquece: «Ó Toni, mete o Mawete!»

Penalizado por duas graves lesões nos tendões de Aquiles, o avançado não mais recuperou o brilho e encerrou a carreira aos 30 anos, no seu país natal. Tinha pela frente outros desafios, igualmente exigentes, no desenvolvimento de projetos na companhia familiar Osmats.

Mawete tem atualmente 33 anos e gere negócios nas áreas de hotelaria, agropecuária, piscicultura e não só. A sua zona de ação vai de Uíge, no norte de Angola, a Kibocolo, terra natal do pai, a caminho da fronteira com o Congo.



O Maisfutebol encontra-o nesse dia a dia entre o escritório e o terreno, ou vários terrenos, onde a companhia Osmats assenta os seus projetos.

«A minha vinda para Angola já foi pensada para jogar e trabalhar com meu pai num projecto familiar. Criámos uma empresa e estamos a fazer esforços para desenvolver Angola. Temos a nossa base de ação no Uíge, porque é a zona mais propícia para desenvolver as nossas actividades, visto que Kibocolo é a terra natal do meu pai.»



Mawete João Batista, o Sénior: General, antigo embaixador e governador de Cabinda, por exemplo. Homem de influência com ligação forte ao seu filho, o Júnior.

«Tive desde que nasci uma ligação muito forte com o meu pai, por isso tenho o mesmo nome que ele (sou chará). Desde que nasci conheci o meu pai como embaixador, a ida para Itália foi mesmo por ele lá estar a trabalhar, quanto aos restantes países em que ele trabalhou não houve relação com a minha carreira de jogador, foi coincidência.»

Esses capítulos da história pertencem ao passado. Mawete Júnior surge agora como um homem de negócios, trilhando caminhos para desenvolver os conceitos que a empresa vai implementando. Um deles encanta particularmente o antigo jogador.

«O Resort na Cidade Mawete é um dos nossos desafios e a nossa grande aposta hoteleira, pois é um projecto com 4 blocos de alojamentos (128 quartos), piscina de 30m, 2 zonas de restaurantes e outros serviços por realizar.»




A companhia Osmats inaugurou entretanto o Hotel Sofia Kibokolo, uma unidade com 4 estrelas numa zona sem outros projetos do género. Um movimento de antecipação.

«O nome do hotel é uma homenagem à minha falecida avó e está colocado numa zona estratégica, onde dentro em breve haverá a abertura das minas de Mavoio e com isso as empresas mineiras de exploração irão precisar de alojamento e outros serviços. Esse hotel é o unico na zona para dar assistência às empresas.»

A hotelaria é apenas uma das áreas de negócio na região. Mawete teve de desenvolver competências em vários ramos, chegando até à agropecuária e piscicultura. O contacto diário com a vida selvagem no norte de Angola leva um sorriso ao seu rosto.

«Sempre gostei de animais e sempre tive o sonho de ter um macaco, por culpa do Michael Jackson. Agora tenho um, que se chama Djoni. Para além disso, nas nossas fazendas temos vários tipos de animais selvagens, desde galinhas selvagens a elefantes! Ainda não tive a sorte de me cruzar com eles mas vejo os rastos de destruição na fazenda, destruindo os cultivos. Vivi em cidades lindas como Lisboa, Roma, etc... mas sempre fui amante da natureza e da vida selvagem, na Europa passava horas a ver o National Geografic.»



Mawete Júnior assume-se, de qualquer forma, como um gestor.

«O meu dia a dia é passado no escritório assumindo o papel de administrador, quando não estou no Uige a averiguar o andamento dos projectos. Quanto ao contacto com a natureza, é de controlo e averiguação dos projetos agrícolas, agropecuários e exploração de terrenos. Não sou eu que trato de cavalos, pois tal requer uma certa formação, ou lavro as terras, vou sim averiguar o desenvolvimento das ideias criadas. Depois de largar o futebol, o objetivo passou por dar maior amplitude aos negócios da empresa, restruturar as infraestruturas e melhorar o seu funcionamento. Sou a ponte entre a ideia e a execução, por isso estou envolvido em todos projectos.»


Apenas 33 anos e o futebol profissional como memória já longínqua, face a um dia a dia agitado e exigente. A antiga promessa do Benfica sente-se feliz entre os seus projetos mas não consegue esquecer o desporto.

«Atualmente sou gestor e mentor da criação de certos projetos da empresa, mas gostava de ser dirigente de futebol e o futuro irá tratar disso, pois já temos a equipa de futebol Mawetes na nossa aldeia, Kibocolo. Para já é uma brincadeira, para dar coragem aos jovens da aldeia, mas quem sabe se no futuro iremos dar mais importância e seriedade à equipa e tentar voos mais altos no futebol angolano?»

Um grito que não se esquece: «Ó Toni, mete o Mawete!»

O futebol estará sempre presente na vida de Mawete Júnior. Por ali, no norte de Angola, vai participando em jogos com antigos profissionais angolanos, onde se podem encontrar várias caras conhecidas dos adeptos portugueses.

«Quem jogou futebol e fez do futebol a sua vida, tal como eu, tem sempre saudades do futebol, do campo, da relva, do público, etc. Os jogos que vou realizando com amigos e ex-jogadores não dão para matar saudades mas sim para alimentar o bichinho. Nesses jogos costumam estar também figuras como Mendonça, Mateus, Paíto, Quito, Dias Caires, Toizinho, Riquinho, Renato Campos, Akwá, André Macanga ou Edgar Pacheco.»