Escrevi aqui há algumas semanas que o Benfica ia ter a sua oportunidade. Teve-a, e ainda não a desperdiçou totalmente.

Muito do sucesso da época para os homens de Rui Vitória dependerá do que acontecer no dérbi de Alvalade, se até lá os dois rivais de Lisboa cumprirem com as expetativas à sua volta. Dito de outra forma: se vencerem os outros jogos.

No entanto, a derrota, que só por si já era má notícia, ainda é acentuada pelo que o Benfica ainda não conseguiu fazer esta época: ganhar a um rival direto, tendo perdido todos os jogos. É que os encarnados nem sequer têm um empate para a troca. Cinco derrotas é algo muito pesado para se carregar até Alvalade.

É verdade que são para já apenas três pontos de diferença, e tudo pode acontecer. É também verdade que o Benfica, matematicamente, pode ser campeão a perder todos os clássicos e dérbis, embora ache pouco provável que isso aconteça.

Se não vencerem no reduto dos leões, os encarnados saem a três ou a seis pontos da equipa de Jorge Jesus. É verdade que o Sporting já desperdiçou o que não deveria e o Benfica recuperou o que não se esperava, mas isso não acontecerá, julgo eu, muitas mais vezes.

O clássico desta sexta-feira marcaria sempre o tom do dérbi que se aproxima. Uma vitória dos homens de Rui Vitória daria outro moral e, possivelmente, outra forma de encarar o jogo por parte do adversário. A derrota, pelo contrário, faz esvaziar o balão em cima do qual a equipa da Luz se apoiava nos últimos tempos.

Há obviamente coisas a que o Benfica pode agarrar-se. A recuperação foi excelente, o futebol praticado melhorou muito e até a derrota frente ao FC Porto teve o seu quê de incompetência em frente à baliza misturada com infelicidade. Mesmo no desaire no clássico os encarnados tiveram, aqui e ali, bons momentos.

Também houve obviamente erros – muitos deles não-forçados se adotarmos a nomenclatura do ténis, como perdas de bola infantis, passes fáceis intercetados, maus posicionamentos; outros por culpa do FC Porto e da sua estratégia – e Rui Vitória tirará certamente ilações de como a equipa pareceu quebrar cada vez que mexeu a partir do banco.

Resumindo, está longe de ter acabado. E o Benfica não pode pensar de outra forma, se quer ainda chegar ao tricampeonato.

O que não parece ter volta a dar é que será obrigado a enfrentar a pressão que o FC Porto enfrentou na Luz mas num patamar ainda superior.

Terá de ganhar em Alvalade – só uma vitória expressiva poderia anular a desvantagem no confronto direto, o que significa que se os três golos de desvantagem não forem anulados os homens de Rui Vitória ficarão a quatro pontos reais da liderança – ou poderá não voltar a ter o primeiro lugar por perto. E ganhar, esta época, a este nível é algo que ainda não conseguiu. Não será isto provar do próprio veneno?

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».