[artigo original publicado dia 6, às 04:05]

O Sporting não esteve tão bem como Jesus quis fazer crer.

Na verdade, apesar dos dois falhanços de Ruiz e da bola na trave de Jefferson, os leões criaram problemas a menos aos rivais. Pelo menos, em relação às expetativas.

O Sporting avassalador, dominador, capaz de empurrar o Benfica até às cordas não existiu. Por outro lado, os encarnados, para além do golo e de um ou outro contra-ataque que podiam ter sido melhor desenhados na segunda parte, quando surgiu o espaço e a partida partiu um pouco, também fizeram pouco mais. Tinham alguns jogadores esgotados fisicamente: Renato Sanches durou, por exemplo, uma hora.

Poderia o resultado ter sido diferente? Claro. Mas os encarnados não falharam onde antes, na Taça, tinham falhado: segurar uma vantagem. E, com isso, venceram o dérbi e saem com dois pontos na frente da Liga.

A estratégia não foi muito diferente, mas o Sporting também não trouxe soluções novas. E desta vez, do ponto de vista de Rui Vitória, resultou.

Não era motivo suficiente para a contenção em Alvalade? Claro que era.

Aliás, um Benfica quase inofensivo em território hostil não vem só de agora. Também o foi com Jesus em várias ocasiões.

Também por isso ficam obviamente mal ao treinador do Sporting as declarações pós-jogo. O Benfica sabe bem como ganhou e o Sporting também sabe como perdeu. E uma das razões – há claro Ruiz a aparecer como réu pelos dois falhanços clamorosos – é que não foi assim tão superior aos encarnados. E foi sobretudo inferior no aproveitamento das poucas oportunidades criadas.

Percebe-se a frustração. A adrenalina negativa, como lhe chamou Jesus. Percebe-se que todos sentiam – os adeptos na receção ao autocarro, os dirigentes, os jogadores e o treinador – que era um jogo para ganhar, fundamental na corrida ao título. Correu mal, como podia sempre correr, e há muita culpa própria nesse desenlace.

Falta muito campeonato, e Jesus tem razão quando lembra os pontos que todos têm perdido. Só há, para já, uma diferença: o Benfica passou a ser a única equipa a depender de si para festejar no fim. O que antes não era verdade.

P.S. Escrevo este post scriptum depois da derrota do FC Porto em Braga, que deixa os dragões a largos seis pontos do primeiro lugar e a quatro do segundo. Tudo somado, fica com dez para recuperar em relação aos dois rivais. Parece muito, e é muito. Apesar de a instabilidade já ter passado por Benfica e Sporting, não é de esperar muitas mais escorregadelas até ao fim. E, sobretudo, arrancar agora, depois de tudo o que tem acontecido, para nove vitórias consecutivas também parece cenário pouco crível. Possível, já sabemos, é sempre, claro.

José Peseiro não tinha margem de erro antes da Pedreira, e já não seria fácil mesmo que não tivesse perdido pontos. Perdeu todos os que tinha para ganhar. Não foi uma derrota surpreendente por várias razões: porque, primeiro, o Sp. Braga é uma equipa com qualidade e tem praticado muito bom futebol; depois, por a vitória que ainda sustentava a sua candidatura, na Luz, não ter sido garantida pela consistência que já mostrava mas por um guarda-redes a realizar uma exibição excelente e pelo desperdício dos encarnados. Não foi desprovida de mérito, obviamente, mas, tentando resumir numa ideia, nunca transmitiu a imagem de que o FC Porto saía do embate mais forte do que tinha entrado. Apenas que saía vivo.

O FC Porto perdeu em Braga porque a equipa de Paulo Fonseca foi melhor. Jogou com a estratégia, segurou o rival e destroçou-o em contra-ataque, aproveitando erros incríveis de Marcano e Casillas, que voltou às noites negras depois do brilho deixado na Luz. Três golos sofridos e duas bolas aos ferros depois, Peseiro também sabe por que perdeu na Pedreira.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».