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Sporting e FC Porto entraram na Liga a vencer, mostrando pela primeira vez a face em jogos a sério nesta temporada. O campeão Benfica surgiu mais tarde em campo, e já depois de bater o Sp. Braga na luta pela Supertaça, em Aveiro, e imitou os rivais.

O campeonato começa com os três grandes no topo, com Boavista, Vitória de Setúbal e Sp. Braga a seu lado. Os principais candidatos ainda estão longe de estar afinados, como seria esperado, e apresentam-se a velocidades diferentes.

O onze inicial frente ao Tondela, reordenado pouco depois por Rui Vitória.

Tricampeão, o Benfica entra para a Liga a pensar no inédito tetra, com o plantel aparentemente estabilizado depois das saídas de Renato Sanches e Nico Gaitán. Se para o argentino cedo foi encontrada uma solução, com a contratação de Franco Cervi – esteve para vir em janeiro passado, mas continuou emprestado ao Rosario Central –, André Horta chegou, por sua vez, no final do verão para ser a solução para a saída do campeão europeu.

Também jovem, irreverente, e diferente de Renato – médio muito mais de ataque apoiado e passes de rotura, e menos de transporte –, formado dentro de portas e resgatado ao Vitória de Setúbal, estreou-se a marcar, fechando o resultado em Tondela (0-2). Um golo ao jeito de Rui Costa, pelo controlo da bola com o pé direito e a forma como fintou para dentro e rematou para as redes. Todas as comparações são precoces e não fazem muito sentido nesta fase, a não ser para valorizar o bom que o miúdo de 19 anos tem feito para agarrar o lugar na equipa.

Ao contrário do que aconteceu no final da época passada, o Benfica está a revelar dificuldades no controlo dos jogos. Foi assim frente ao Sp. Braga, repetiu-se depois em Tondela. Assente no habitual 4x4x2, com Gonçalo Guedes no lugar de Jonas, os encarnados fizeram o seu encontro da frente para atrás, à procura do equilíbrio perdido. É verdade que podiam ter marcado por Mitroglou e Luisão, mas concederam demasiado espaço às saídas do rival.

Rui Vitória teve de reorganizar a equipa, com Pizzi a passar para o meio e Guedes para a lateral, e a saída do lesionado Luisão e respetiva entrada de Lisandro ajudaram a equipa a controlar melhor a profundidade, evitando bolas colocadas nas costas. O argentino marcou e sustentou ainda mais esse reposicionamento, que, no final do encontro, incidia sobre um 4x2x3x1: Júlio César; Semedo, Lisandro, Lindelof e Grimaldo; Fejsa e Samaris; Salvio, André Horta e Gonçalo Guedes; Mitroglou.

Outra ideia que sobressai da vitória do emblema da Luz é o pragmatismo. A vencer por 1-0 e com a demora de um segundo golo, o Benfica fixa-se no resultado e torna-se realista e menos dado ao risco. O que faz ponte direta com o fim da última temporada. Os encarnados preparam-se para lutar por cada ponto até ao limite.

No plano ofensivo, por força dessa tração atrás, o Benfica desiludiu. Sentiu-se a falta de Jonas, apesar dos esforços de Gonçalo Guedes, e sobretudo a inspiração de Mitroglou, que entrou mal na temporada.

O mercado paira sobre o plantel de Rui Vitória mais uma vez, que parece ter, no entanto, soluções imediatas para combater qualquer investida imparável a uma cláusula de rescisão ou a um negócio irrecusável.

Jorge Jesus não teve Slimani para o primeiro jogo da época.

Também em Alvalade se sustém a respiração com o aproximar do fim do mercado. Para já, o triunfo frente ao Marítimo garante um bom arranque ao Sporting, conseguido sem o castigado Slimani e com algumas dificuldades, precisamente por isso, na presença na área, sobretudo no primeiro tempo.

João Mário, em tarde pouco inspirada na finalização, ter-se-á despedido, ficando por encontrar um sucessor dentro ou, eventualmente, fora do plantel. Com o natural regresso de Super Slim ao onze – olhando apenas para o plano desportivo –, Jorge Jesus poderá manter de futuro a organização apresentada frente aos insultares com Gelson e Bryan nos flancos. No entanto, depois do título europeu para Portugal, Adrien, William e Rui Patrício ainda estarão debaixo de mira de alguns dos mais fortes emblemas europeus. Meli, Petrovic e Beto terão sido contratados mais como elementos de rotação do que como titulares, mas poderão ter de assumir outro papel em breve, em caso de uma destas saídas. A pré-época mostrou que não é ela por ela

E há ainda Slimani, um ponta de lança que encaixa como uma luva pela intensidade, agressividade e jogo aéreo, e que terá mais uma vez mostrado interesse em assinar o contrato da sua vida com outro clube. Se ficar, será de esperar o rendimento que já mostrou ou alguma quebra? O Sporting procurará um segundo avançado e não mais um nove, mas poderá de ter de deixar a questão algo em aberto.

Há ainda demasiadas indefinições. E, mais uma vez, a esta distância do fim do mercado, parece um plantel com soluções a menos para um forte investimento desportivo na Liga dos Campeões, em conjunto com as frentes de batalha abertas no plano interno.

Frente ao Marítimo, houve, então, pontes com o passado. A equipa era praticamente a mesma, só faltava Slimani e entrara Alan Ruiz – o único reforço que tem, para já, algum espaço no onze, face às saídas de Teo Gutiérrez e Hernán Barcos –, e por isso não é estranhar a continuidade das rotinas e da forma de jogar da equipa. Sobretudo no segundo tempo, os leões foram muito parecidos nessa dinâmica que lhes valeu a luta pelo último título até ao final, aproveitando a largura do terreno e praticando um futebol de elevada rotação.

Atrás, houve mais problemas do que o normal, sobretudo pelo seu lado direito. Verificou-se a falta de protecção a esse flanco, o que poderá ser explicado pela aposta inicial em João Pereira – Schelotto terminou a época a titular – e por algumas desatenções de Gelson no processo defensivo. O Marítimo esteve vezes a mais perto do golo, valendo o grande momento de forma de Rui Patrício e, numa ou noutra ocasião, muita sorte aos da casa.

Onze do FC Porto parece já bem definido.

O FC Porto espera por novidades. O triunfo em Vila do Conde é importante, claro, mas houve demérito do conjunto local no plano defensivo – erros de abordagem nos três lances capitais, e muita ingenuidade –, embora se possa (e deva) sublinhar a qualidade individual nas definições de Corona e Herrera. Ao virar o resultado, os dragões ganham moral para sustentar ideias enquanto aguardam por mais uma ou outra peça do puzzle.

Brahimi e Aboubakar nem se sentaram no banco nos Arcos, e estarão identificados como dispensáveis, mediante um razoável encaixe financeiro e que permita algum reinvestimento. O plantel também parece deficitário e não só no setor defensivo, embora este seja o mais urgente de equilibrar, sobretudo no eixo. Um médio diferente, que potencie transições, e mais opções para os flancos do ataque também serão necessários caso a equipa avance, como espera, para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

O onze parece estar definido face às decisões (difíceis) já tomadas: Brahimi, Aboubakar e Indi. Alex Telles ganhou a corrida a Layún, mas poderá agora tê-la perdido com a expulsão. Maxi é indiscutível, tal como Felipe e Marcano, estes devido à escassez de recursos. Danilo, Herrera e André André parecem seguros no meio-campo. Otávio, Corona e André Silva compõem o trio da frente.

Otávio e André Silva são, aliás, as boas notícias do FC Porto neste início de temporada, o primeiro pela criatividade e o segundo pela capacidade de assumir-se como referência de todo o ataque, graças à plenitude de recursos que possui.

A defesa, como é normal, tremeu algumas vezes. Sofreu um golo de bola parada, numa falha da marcação à zona, e mostrou-se, mais uma vez, refém da ausência de um verdadeiro líder. Face a um adversário como a Roma, no play-off da Champions, deverá ser exposta no mínimo a muito trabalho.

O ritmo também pareceu demasiado baixo, e a equipa pouca intensa, algo que o resultado (1-3) não traduz. O ataque mostrou-se previsível e demasiado dependente do que Otávio conseguia criar e André Silva desequilibrar.

O FC Porto terá de rapidamente elevar alguns índices face à aproximação de desafios muito importantes para o evoluir da temporada.

Tudo somado, chegamos ao lugar comum, que não deixa de ser bem real. Há muito trabalho ainda pela frente para os três treinadores. 

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».