Pedro Mil-Homens, director da Academia de Alcochete, e Lee Kershaw, responsável pela Academia do Manchester United, protagonizaram a palestra mais aguardada desta manhã de domingo no 5.º Congresso Mundial de Ciência e Futebol, que decorre na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, desde a passada sexta-feira e até à próxima terça, dia 15.

O workshop, sob o título «Academias de futebol: conceitos e modos de funcionamento», teve como objectivo que os dois responsáveis pudessem expor a forma como dois dos maiores clubes europeus preparam o futuro, formando novos talentos. Uma ideia forte ressaltou, comum às preocupações de Kershaw e de Mil-Homens: uma Academia não serve só para descobrir talentos, precisa de ser uma preparação para a vida. «Muitos dos jovens que passam pela nossa escola nunca irão jogar no Manchester United. A grande parte deles não irá, de certeza. Não tenho números certos, mas provavelmente só 10 a 15 por cento dos nossos miúdos chegam ao plantel do Manchester. Por isso, temos que os obrigar a seguirem os estudos, porque o mais importante é que tenham sucesso na vida», destacou Lee Kershaw.

Pedro Mil-Homens reforçou essa ideia: «Uma Academia como a nossa faz um trabalho de longo prazo. É uma construção, um percurso que se faz passo a passo. Temos a obrigação de cuidar do futuro dos jovens que passam pela nossa casa. Os que não tiverem sucesso no futebol profissional, terão que dispor de alternativas de futuro. Por isso, é fundamental que olhem para os estudos. Mesmo os que seguem a carreira futebolística, poderão vir a ficar frustrado por não entrarem na equipa principal do Sporting. Um miúdo que vem de Trás-os-Montes, por exemplo: não podemos dizer-lhe, aos 16 anos, `olhe, você não serve, volte para a sua terra¿. Não pode ser assim, porque ele vai voltar para perto dos pais, dos amigos, com o estigma de não ter servido».

Por isso, para casos como esses, que estatisticamente serão sempre muitos porque os que têm sucesso são uma elite minoritária, Mil-Homens explica o que faz a Academia do Sporting: «Tentaremos sempre arranjar uma colocação num clube da zona do local de origem do miúdo. Mantêmo-lo sob observação, dizemos que foi emprestado por nós. Caso contrário, estaremos a acabar com os sonhos de um jovem que já ficou um bocadinho frustrado por não ter tido lugar no Sporting».

Avaliações periódicas, comunicação com os pais

O Manchester tem uma Academia que actua sob regras extremamente rígidas: tudo está sistematizado: «Temos quatro diferentes fases de evolução: até aos nove anos; entre os nove e os 12; dos 13 aos 16; e dos 17 até aos 21, o ponto final no percurso de formação», explica Lee Kershaw. Os 16 anos são um momento fundamental: é aí que muita coisa se define. «Geralmente, nesse ponto estamos capazes de perceber se esse jogador vai ou não fazer parte dos nosso quadros. Faltam alguns anos para o finalizar da formação, mas nesse ponto o essencial já se pôde ver».

O modelo que a Academia do Sporting irá adoptar não será muito diferente. Pedro Mil-Homens num percurso «acompanhado» e em que os pais têm uma palavra importante a dizer. «O problema é quando são os próprios pais a incentivarem-nos a tirar os miúdos da escola, porque o que querem é ver o filho num clube de futebol. Por vezes, esquecem-se de precaver o futuro e de pensar que se o filho parte uma perna, perde o futebol e pode perder-se para a vida».

O Sporting fará, na sua Academia, avaliações periódicas aos seus jovens jogadores: no Natal, na Páscoa e no final da época. «Prestaremos informações sobre o que devem melhorar e qual tem sido a evolução deles».

A assistir a esta palestra estiveram o treinador do Nacional, José Peseiro, bem como o médico do Sporting, Gomes Pereira, o treinador-adjunto Rolão Preto e ainda o recuperador físico, Carlos Bruno.

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