Há vitórias que não são conquistadas: são aceites. Foi o caso deste triunfo do Sporting sobre o Skenderbeu, que chegou em papel de embrulho, com lacinho e toda a cortesia.
 
Foi literalmente oferecida, e não é boa educação julgar o que é dado de coração aberto. Foi uma vitória, e ponto final. Uma vitória fundamental nas aspirações europeias do Sporting. Só isso.
 
Ora convém pormenorizar que a vitória foi oferecida em dois ou três momentos de insensatez.
 
O Sporting até estava a dominar o jogo, a mandar na posse de bola e a atacar, mas fazia-o sem velocidade, sem imaginação e sem engenho. Pouco depois da meia-hora, por exemplo, ouviu-se em Alvalade uma monumental assobiadela: coisa rara neste Sporting de grande comunhão fraterna.

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Nessa altura já Salihi tinha sido expulso: o melhor marcador do Skenderbeu viu o primeiro amarelo por protestos e o segundo por atacar uma bola na área leonina com a mão. Em quinze minutos viu dos cartões desnecessários e deixou o Sporting a jogar mais de uma hora em superioridade.
 
Ora o Skenderbeu entrou em Alvalade a jogar num 4x5x1 de tração à retaguarda, deixando apenas o tal Salihi na frente, depois da expulsão ficou a jogar sem referência ofensiva: não conseguia sair.
 
Foi o primeiro momento de insensatez, mas não foi o único. Logo a seguir, Jashanica cometeu uma grande penalidade desnecessária sobre Montero, que acabara de entrar na área, muito longe da baliza, oferecendo a Aquilani a possibilidade de abrir o marcador: o italiano não falhou.
 
Três minutos depois, outra vez Montero a receber à entrada da área e desta feita foi Vangjeli a cometer um penálti infantil, oferecendo agora a Montero o segundo golo leonino no jogo.
 
Por aqui já se vê como esta não foi uma vitória conquistada: foi aceite. Mas houve mais.


 
Já na segunda parte, por exemplo, o guarda-redes Shehi saiu completamente em falso e deixou Matheus Pereira de baliza aberta para o terceiro golo: o brasileiro só teve que empurrar de cabeça.
 
Ora perante isto, e com a moralização natural de cada golo que ia marcando, o Sporting partiu para uma goleada das antigas. Cada vez mais solto, cada vez mais confiante, criou na segunda parte as ocasiões que tinha deixado por construir na primeira e, mais importante, concretizou-as.
 
No primeiro tempo, e à exceção de um genial abertura de Matheus que isolou Montero para dois remates salvos em cima da linha de golo por defesas do Skenderbeu, pouco tinha sobrado.
 
Na segunda parte, aí sim, criou várias ocasiões de perigo, obrigou Shehi a brilhar e chegou à goleada. Pelo caminho destacou o enorme talento de um miúdo de 19 anos: Matheus Pereira já é um bocadinho mais do que uma enorme promessa.

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Voltou a bisar, fazendo o quarto golo em dois jogos, mostrou acima de tudo um enorme talento, na forma como, por exemplo, lê o futebol e descobre linhas de passe. Craque.
 
É necessário ainda guardar um parágrafo para o golo do Skenderbeu: surgiu num canto, já no fim, e é notícia porque é o primeiro golo da equipa nesta Liga Europa, é o primeiro golo de uma equipa albanesa em Portugal e é o primeiro golo de uma equipa albanesa a um adversário português.
 
Por aqui também ser vê como deu para tudo.
 
Ora feitas contas, o Sporting aproveitou as ofertas de um adversário imaturo, cumpriu a obrigação com uma equipa formada por segundas linhas e manteve-se na corrida pelo apuramento no Grupo H da Liga Europa. Pelo caminho deliciou-se com uma barrigada de golos antes do dérbi.