Sem o FC Porto vivo na luta pelo título e o Boavista já salvo do cadafalso da descida não contava muito este inédito duelo ao amanhecer (com início às 11h45) que os dragões acabaram por resolver quase com a tranquilidade de uma peladinha num treino – o horário é em tudo semelhante; a diferença é que em vez de ser à porta fechada aqui havia 26 mil espetadores a assistir.

Faz sentido que o «dérbi do despertador» – permitam-nos o batismo –, que abriu a derradeira jornada ada Liga, tenha começado a ser resolvido com um golo madrugador.

O FC Porto acordou cedo para o jogo e colocou-se em vantagem logo aos 11 minutos. Danilo beneficiou de uma bola que sobrou de Idriss e Marcano e solto na área desviou para abrir o marcador.

Daí em diante, a equipa de José Peseiro foi controlando o jogo num ritmo que foi adormecendo ao longo da primeira parte, a ponto quase de permitir o empate axadrezado, que só não surgiu porque Casillas evitou com uma defesa por instinto uma combinação entre Renato Santos e Mesquita (29’).

FILME DO JOGO

O Boavista criava perigo sobretudo pelo lado direito do seu ataque numa primeira parte em que do lado contrário o FC Porto mostrava maior consistência sobretudo pelo acerto de Danilo e Layún, que contrastava com os «turnovers» dos extremos – Varela e Corona perderam demasiadas vezes a bola.

Ainda assim, faltavam metros aos axadrezados para criar perigo mais perto da baliza portista e a tendência agravou-se no segundo tempo. Com Danilo já a descansar para a final da Taça, apareceu Layún a brilhar com um remate colocadíssimo à entrada da área, após uma assistência inteligente de André Silva.

2-0. Dérbi resolvido e meia-hora para jogar. Ficava a ideia de que daqui em diante poucos mais motivos de interesse restariam na partida. Mas o melhor ainda estava para vir.

À medida que o domínio do FC Porto se acentuava, uma grande penalidade por falta na área sobre Maxi deu a Brahimi a oportunidade de fazer o 3-0. O público assobiou porque pedia André Silva.

DESTAQUES: Golo madrugador começou a decidir o dérbi matutino

Reclamava-se pelo tal golo que faltava para dar confiança ao prodigioso jovem ponta-de-lança portista. Brahimi não acedeu ao pedido. Agarrou na bola e marcou.

Porém, André Silva não desistiu e teve o merecido prémio três minutos depois (aos 87’), quando Brahimi decidiu finalmente ser generoso ao assistir o jovem avançado portista, que se isolou, contornou Mika e rematou para o fundo da baliza. Não foi um golo qualquer. Foi a estreia a marcar de André Silva na equipa principal e, por isso mesmo, um dos golos mais festejados dos últimos tempos no Dragão. Uma comunhão entre adeptos e a equipa como há muito não se via.

Uma espécie de momento de libertação a marcar a despedida de um estádio que viveu uma época traumatizante, como que a renovar a fé dos adeptos para a final da Taça de Portugal do próximo fim-de-semana.

A última vez que FC Porto e Boavista se defrontaram na derradeira jornada da Liga foi em maio de 2001 e os azuis e brancos também venceram por 4-0. Nessa ocasião, ainda nas Antas, os portistas vingaram-se de perderem a corrida pelo título para o rival da cidade, acabado de sagrar-se campeão.

Quinze anos depois, a sede dos dragões por títulos mantém-se como dantes e o dérbi matutino voltou a ser resolvido com goleada.

Foi preciso esperar até à derradeira jornada para perceber um sinal claro de que o FC Porto terá começado finalmente a acordar?