Os treinadores costumam dizer que é sempre mais fácil trabalhar em cima de triunfos, e Rui Vitória até pode aproveitar agora a pausa na Liga (jogam as seleções), mas o jogo com o Moreirense voltou a mostrar que o treinador do Benfica tem muito trabalho pela frente.
 
Os bicampeões nacionais venceram, mas os adeptos não regressam a casa muito mais confiantes. Foi um triunfo sustentado no orgulho ferido, na crença, mas com pouca solidez exibicional. Ter um coração grande é sempre uma virtude, e foi isso que levou a equipa do Benfica até ao triunfo, mas isso nem sempre vai chegar.
 
O Benfica foi uma equipa com poucas ideias. Precipitada no passe, sobretudo quando procurava jogar pelo corredor central, e pouco perigosa no jogo exterior. É verdade que dois dos golos resultam de cruzamentos para a área, mas ao fim de quantas tentativas, quase todas ineficazes?
 
O Moreirense esteve perto de conseguir um resultado positivo na Luz, e teve muito mérito na forma como se organizou defensivamente, mas faltou-lhe um pouco mais de acutilância a explorar o contra-ataque, e na parte final do encontro foi incapaz de responder ao «poder de fogo» que o Benfica colocou na frente. Em todo o caso a integração dos reforços Rafael Martins, Iuri Medeiros e João Palhinha deixam antever melhorias para breve na equipa de Miguel Leal.
 
O preço das transições defensivas, uma vez mais
 
Mais uma vez o Benfica entrou no jogo sem intensidade, sem conseguir intimidar o adversário. Fez o primeiro remate apenas aos 15 minutos, por intermédio de Victor Andrade, a surpresa por Rui Vitória para este jogo.
 
Mas por essa altura já o Moreirense tinha rematado duas vezes, por intermédio de dois reforços que entraram diretamente para o «onze»: Rafael Martins e Iuri Medeiros. Júlio César resolveu os lances com relativa facilidade (5 e 14m).
 
O Moreirense não conseguiu sair tantas vezes em contra-ataque quanto o Estoril ou o Arouca, os anteriores adversários do Benfica na Liga, mas ainda assim as carências da equipa de Rui Vitória nas transições defensivas ficaram bem patentes ao minuto 29, quando surgiu o golo da equipa visitante.
 
Lisandro cortou um lance de cabeça para a zona central e Vítor Gomes percebeu que (estranhamente) tinha via aberta para a área benfiquista. Depois o médio português soltou a bola no momento certo para Rafael Martins, que rematou cruzado.
 
Pouco antes tinha surgido uma bicicleta de Gaitán a arrancar aplausos na Luz (22m), mas o golo sofrido soltou o descontentamento que a exibição já estava a gerar. Esforçado, ainda que nem sempre esclarecido, Victor Andrade foi o protagonista de mais duas oportunidades antes do intervalo, mas tirou mal às medidas à baliza em ambas (32 e 45m).
 
Pelo meio a melhor ocasião no primeiro tempo, com uma combinação entre Pizzi e Jonas que (depois de um desvio) deixou o brasileiro solto na área, mas o remate saiu ao lado quando o público já gritava (38m).
 
A influência de um lateral esquerdo chamado...Gaitán
 
Rui Vitória decidiu fazer uma dupla substituição logo ao intervalo, lançando Talisca e Gonçalo Guedes para os lugares de Pizzi e Victor Andrade, dois dos elementos mais inconformados na primeira parte.
 
O Benfica melhorou, é certo, mas foi uma reação mais sustentada no orgulho e na  entrega do que propriamente assente em bases sólidas do ponto de vista tático e estratégico.
 
Mitroglou apareceu finalmente no jogo, e obrigou Stefanovic a defesa apertada ao minuto 57, para pouco depois chegar ligeiramente atrasado a um cruzamento rasteiro de Eliseu (65m).
 
O Benfica conseguia finalmente encostar o adversário às cordas, e as oportunidades sucediam-se. Jonas atirou por cima quando estava completamente solto na marca de penálti (68m) e Mitroglou viu Stefanovic desviar o seu remate para a barra, logo a seguir (69m).
 
A bola não entrava e Rui Vitória voltava a lançar o trunfo final que já tinha experimentado em Aveiro: prescindiu de Eliseu e juntou Raúl Jiménez a Jonas e Mitroglou. Desta vez resultou, já que o mexicano fez o empate na primeira vez que tocou na bola, desviando de cabeça um cruzamento de Gaitán (75m).
 
Na jogada seguinte o Benfica deu a volta ao marcador, com uma combinação grega a proporcionar o golo a Samaris, que rematou forte de fora da área após passe atrasado de Mitroglou.
 
O pior parecia feito, no que diz respeito ao Benfica, mas a seis minutos do fim o Moreirense restabeleceu a igualdade. Um lançamento lateral deixou a defesa encarnada a tremer, mas Ramon Cardozo sai de posição irregular para marcar.
 
A Luz voltava a gelar, mas dois minutos depois o Benfica voltou a marcar. Gaitán, que acabou o jogo a lateral esquerdo, tirou novo cruzamento venenoso da esquerda e Jonas apareceu na área a finalizar de pé esquerdo. Em vez de sorrir o avançado brasileiro respirou fundo. Por aí se percebe o sofrimento que foi para o Benfica. Desta vez com um desfecho positivo.