José Mourinho regressou esta terça-feira à Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa. O novo treinador do Manchester United esteve a lecionar um módulo da pós-graduação de Treino de Futebol de Alto Rendimento, onde é professor.

Em conversa com os jornalistas na pausa para almoço, Mourinho deu algumas pistas (não muitas, até porque está proibido de falar do novo clube) sobre como vai ser a próxima época em Inglaterra e partilhou a confiança que tem em ver a Seleção Nacional realizar um bom Euro 2016.

Lá dentro, no Salão Nobre da FMH, o «Special One» partilhou alguns conhecimentos uma plateia de alunos e alguns nomes batidos no futebol, como Pedro Caixinha, Luisão e Adam Sadler, analista tático do surpreendente Leicester, numa sessão que se prolongou sensivelmente entre as 10h00 e as 17h00 com intervalos pelo meio.

«Não venho aqui ensinar nada. Não venho aqui armado em professor. A única coisa que vim aqui fazer foi dizer como é que eu faço. Vi mostrar como é que eu faço», começou por dizer.

Mourinho falou sobre como se trabalha nos dias que antecedem um jogo com uma equipa adversária. Como modela o processo de treino às características de um Liverpool, um Arsenal, um Leicester. E de um Chelsea, que a partir de agosto passará para o outro lado da barricada pela primeira vez desde que o técnico sadino aterrou em Terras de Sua Majestade.

«Pedi-lhes [aos alunos] que se pusessem na pele dos jogadores e que me ouvissem como se estivéssemos a preparar um jogo. Depois, fiz-lhes um desafio giro: mostrou-lhes a análise de um adversário (neste caso do Liverpool, que lhes vou mostrar da parte da tarde – da parte da manhã mostrei-lhes tudo à volta de um jogo contra o Tottenham) e quero que sejam eles a dar à luz exercícios», explicou aos jornalistas, que não puderam assistir à aula.

Mourinho falou de um dia difícil. A ida à FMH, uma casa que já foi sua enquanto estudante ainda na década de 80, foi uma escapadinha ao corre-corre dos últimos dias: assinatura pelo Manchester United, reuniões de planeamento e visitas às instalações dos «red devils», Mourinho não tem parado. «Estou todo atarefado», admitiu. «Disse aos alunos que gostava de ir com eles ao campo de ter um segundo dia com eles. Mas neste momento é impossível. Estive cinco meses de férias e agora 24 horas não chegam», confessou.

À margem do que veio fazer a Portugal, o «Special One» falou ainda o que faz da Premier League uma competição… especial: a imprevisibilidade potenciada por um modelo de negócio diferente.

«Vocês olham para o campeonato alemão e nos últimos cinco anos a mesma equipa ganhou quatro vezes; na França, em quatro [o PSG] ganhou quatro. Em Espanha, o Atlético ganhou uma vez e o Barcelona os outros três. Em Inglaterra, nos últimos quatro anos houve quatro campeões diferentes. Isto diz muito sobre a competitividade, o país e do facto de ter, se calhar, os direitos televisivos mais impactantes», dissertou.

Para Mourinho, o caso inglês protege o futebol como um todo. Uma realidade que, observa, não acontece em outras ligas por conveniência dos clubes mais poderosos. «O facto de as receitas televisivas serem distribuídas do modo que são permite o crescimento da Liga enquanto competição, ao contrário das outras ligas onde os tubarões são sempre os tubarões e não permitem essa aproximação do ponto de vista económico porque querem que haja essa distância», apontou.

Dedo posto na ferida, Mourinho lembrou de seguida um episódio que demonstra na perfeição como se pensa o futebol em Inglaterra. «No início da época ouvi o presidente da Premier League dizer não queria que o Chelsea fosse campeão pelo segundo ano consecutivo. Não gostei de ouvir, mas não foi por isso que a época me correu obviamente mal. É uma coisa que dita noutro país teria seguramente um impacto diferente. Nós interpretamos e analisamos na perspetiva de que é bom para o campeonato inglês. É uma história de sonho o Leicester ter sido campeão», concluiu do alto da propriedade que os largos anos de futebol em terras de Sua Majestade lhe conferem. «Já tenho sete anos de Premier League. Já faço um bocadinho parte da mobília», atestou.