Simples. Bola por um lado, ele por outro. E o bruá. Aplausos!

Simples. Bola por um lado, ele por outro. O bruá, ouçam! Se estiverem em silêncio, ouvem-no. Mais aplausos.

Simples. A bola por aquele lado, ele pelas costas. Bru-á-á-á-á-á-á. Ainda mais aplausos. A jogada repete-se, gif animado. Grande!



Parece... Parece fácil. Passo atrás, a enquadrar. E o pisar leve. Tão leve como se não tivesse peso. A perna direita a fechar em tesoura sobre a esquerda. Bola disparada, com rasto de fogo. Como naquele FIFA-de-há-anos, feito para o Mundial 2002. Acho que foi esse. Míssil teleguiado a passar por cima do guarda-redes. Na gaveta. Que grande filho da mãe!

Fácil, vejam! Passo atrás, bem leve. Quase fica em suspenso sobre a relva. Perna direita, como num livre direto. A fechar, a direita quase em cima da esquerda. O míssil, o guarda-redes. Na gaveta.

Vejam! Filho da mãe!



Tanto que os separa. Nove, nove anos menos picos. Linhas várias por baixo de experiência, destacado a negro, no currículo. Um no início do caminho que o outro está prestes a terminar. O peito-feito de personalidade. Influência numa grande equipa. Estatuto de estrela.

Há jogadores que crescem para lá da posição em campo. São maiores que o número. O seis, um oito. E por aí ficamos. Maiores que o dez temos um ou dois, e se estiver bem disposto.

Yaya começou a esticar mais a perna. A chegar mais depressa. Saltava mais alto. Rematava mais forte, e de forma cirúrgica. Pegava na bola e voava, em direcção à baliza rival. Passava com cada vez mais confiança. Marcava.

O human train fazia box to box, e vice-versa.

Fazia-o outra vez, como no início da carreira. Bölöni fez mal em rir-se dele no Mónaco. Guardiola não viu nele, em Barcelona, a sua essência. E até o pôs a central. Numa final. Agora, o seis que sempre quis ser oito está finalmente livre das amarras.

William tem força. Mas também um «mas», gravado algures na linha do seu destino. Não sei se crescerá tanto. Se reclamará tantas manchetes. Desconheço o que se passará em nove anos. Ou sequer amanhã. Não sei se olhará para os metros à sua frente e tentará conquistá-los. Juntá-los ao seu território, de vez. Ou se privilegiará o que já domina, fortificando o espaço à sua volta. Tenho a certeza que nem ele sabe.

Felizes os que conseguem influenciar o jogo tão de trás. De encavalitar a equipa aos seus ombros, equilibrá-la, e atirá-la com força para a frente. Sem falar. Gritar. Bola recuperada, bola entregue. Recuperada, e levada na trivela. Em velocidade de cruzeiro. Bola recuperada, equipa mais perto da rede. Tudo nele começa, e recomeça.

Simples. Fácil. Para o lado, quando é esse o caminho. Para os flancos quando lho pedem. Para a rotura quando tudo se precipita (e Freitas Lobo não está a ver). Devagar, que ninguém ousa correr atrás. Com calma. Tranquilidade. Já tão grande. Mas a pisar leve, sem deixar rasto. 

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«Era capaz de viver na Bombonera» é um espaço de opinião/crónica de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol. Pode segui-lo no  FACEBOOK e no  TWITTER. O autor usa a grafia pré-acordo ortográfico.