A última jornada dos campeonatos profissionais é sempre um momento propenso a tensão e a situações que podem gerar algumas dúvidas. Joga-se o tudo ou nada e entre a sobrevivência e a queda, ou entra a alegria e a frustração vai, por vezes, a diferença de um golo.

Os incentivos de terceiros já se cruzaram, por exemplo, com as aspirações de Vítor Pereira, atual treinador do F.C. Porto.

De acordo com as informações recolhidas pelo Maisfutebol, a história remonta à temporada 2008/09, quando o técnico orientava o Santa Clara. A equipa dos Açores chegou à 30ª jornada no segundo lugar, em posição de subida, mas falhou o objetivo.

Nesse jogo, perdeu no reduto do Feirense (1-0). A União de Leiria aproveitou o desaire, venceu o Beira Mar em Aveiro (2-3) e ultrapassou o Santa Clara na tabela classificativa, garantindo a promoção. O prémio oferecido aos Fogaceiros terá ajudado?

Curiosamente, o valor destinado ao plantel do Feirense veio do próprio balneário leiriense. «Nós tínhamos um prémio pela subida de divisão e abdicámos de uma parte para dar nesse jogo», revelou um dos antigos jogadores da equipa do Lis ao nosso jornal.

O Maisfutebol contactou Rui Ferreira, jogador que foi suplente do Santa Clara nesse encontro. Será que os adversários se aperceberam desse incentivo de terceiros?

«Ouvimos esses rumores antes do jogo, mas não soubemos se foi verdade. E mesmo que tivesse sido, o Feirense já quereria vencer de qualquer forma. O prémio que tenha havido foi só um incentivo extra.»

«Tudo o que seja para ganhar parece-me normal»

«Não era motivo suficiente para perdemos. Mesmo tendo havido esse incentivo do Leiria, quem tinha mais a ganhar com o jogo? Nós. Se não vencemos, foi mais por incapacidade nossa. Tínhamos um prémio de subida e eu, por exemplo, tinha ali a possibilidade de subir, de jogar mais um ano e ainda por cima na Liga! No final desse jogo, face à derrota e aos 36 anos, terminei a carreira», explica o antigo médio.

Um incentivo de terceiros num jogo desta dimensão equivale a uma quantia significativa para todos os jogadores e paga invariavelmente em dinheiro.

«Para mim, tudo o que seja para ganhar parece-me normal. Em minha opinião, não faz sentido ser punido pelos regulamentos, uma vez que só se vem juntar ao desejo natural de ganhar. Um adversário, ao ser confrontado com essa situação, fica com mais estímulo, com sentimento de revolta, portanto só depende de si para ganhar», remata Rui Ferreira.

1.500 euros em 2006/07

Mais um caso a que o Maisfutebol teve acesso: um jogador aceitou relatar um episódio sem que o seu nome e do seu clube fossem identificados. Aqui fica o seu testemuho.

«O caso remonta à época 2006/2007. Leixões, V. Guimaraes e Rio Ave disputaram até às últimas jornadas a subida de divisão. A minha equipa tinha um jogo contra um desses candidatos e começaram a surgir rumores de que iríamos ter um prémio extra pela vitória», explica.

A confirmação chegaria na véspera do tal encontro. «A verdade é que durante a semana, pouco ou nada soubemos. Contudo, um dia antes do jogo, foi comunicado pelo capitão de equipa que teríamos um prémio extra de 1500 euros por jogador em caso de vitoria».

O clube venceu e o prémio foi pago, como prometido, por outro dos candidatos à subida. «Este tipo de incentivo às vezes é mal entendido mas na verdade é apenas uma motivação extra para uma equipa ganhar! Todos os anos se ouve falar de muitos casos de incentivos as vitorias que poderão ajudar terceiros, seja para ser campeão, seja para evitar descidas.»

«Caso diferente é receber para perder. Para além de estar a influenciar a verdade desportiva, considero que essa é uma atitude de pessoas sem valores», remata o jogador que aceitou revelar a sua história, sob anonimato.