PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. Cultural, quero crer. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura, no teatro. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Mas não só. Ideias soltas, reflexões comuns, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera das nossas prioridades. PLAY.

SOUNDCHECK:

«SÃO 7 VOLTAS PR'Á MURALHA CAIR», TIAGO GUILLUL. Retro, bem humorado, auto-depreciativo. Ilustrado por equipamentos históricos, flashes do México-86 e uma jogatana de Subbuteo. O sonho de qualquer amante do futebol nostálgico.

Jorge Cruz à Maradona, Tiago Guillul a vestir as cores da Fiorentina, Samuel Úria a fazer de Vecchia Signora. A música apareceu em vésperas do Mundial-10, chegou a correr uma petição para torná-la no hino oficial da seleção, mas felizmente tal não sucedeu.

A irreverência das 7 Voltas não se compadece com qualquer ligação institucional. Isto é uma paródia desregrada, uma encenação do que fomos e sonhávamos ser, um olhar descomplexado sobre o ridículo das nossas figuras passadas. Um ridículo pungente e extraordinário, digo eu.

O vídeo acaba com uma discussão em redor de uma mesa de Subbuteo. Sete amigos e sumos de laranja (certamente Capri Sonne). O mundo seria um lugar melhor se tudo se resolvesse assim.

No meu antigo quarto, em casa dos meus pais, lá está a caderneta do México-86. É só abrir a terceira gaveta da direita e procurar por baixo dos postais. Inundada de pó, amarelada, irrepreensivelmente rabiscada.

O pano do Subbuteo está no sótão, já sem os bonequinhos oficiais. A minha panca era trocá-los por caricas equipadas a rigor. Sete putos, uma mesa na sala de jantar, torneios intermináveis.



VIRAR A PÁGINA:

«ROMÁRIO - POMBA SEM ASA», de Marcus Rezende de Moraes. Malandragem pura. Loucuras, excentricidades, ódios de estimação, taras e manias. A biografia de Romário é um desfile de amuos, imposições, zangas, histórias de futebol e da vida louca do Baixinho genial.

O autor chamou-lhe Pomba Sem Asa. «Certo dia, na concentração do Flamengo, o Romário zangou-se com o Edmundo por causa de um relógio. Romário perguntou as horas, Edmundo respondeu que era hora de ele comprar um relógio. Nunca mais se falaram», conta um ex-dirigente do Flamengo.

Há mais, muito mais. «O Romário foi afastado do Mundial de juniores, em 1985, porque fez xixi da janela do hotel em Copacabana. Acertou em muitas pessoas na rua. O Gilson Nunes (técnico) não gostou», confidencia o ex-colega Mauricinho.

E ainda outra. «Romário tinha regalias no Flamengo. Costumava tirar um cochilo na maca, antes do jogo. Quando faltavam 15 minutos, lá estava o craque a dormir, enquanto os demais jogadores faziam o aquecimento. Tínhamos medo de acordá-lo», diz Wilson, amigo e ex-colega.

«Ele acordava, molhava o rosto e dizia sempre o mesmo: bacana. Cavalo tem barriga, corre pra c¿ e não precisa alongar. Eu também não».

SLOW MOTION:

«FIEL, O FILME - CORINTHIANS NA SÉRIE B». Na semana em que o Timão se tornou campeão do mundo de clubes, vale a pena voltar quatro anos atrás e ver este documentário. Conta os dias desprestigiantes do gigante paulista na Série B. A mesma paixão, sim, mas envolta em lágrimas horrorizadas.



«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.