Mohamed Salah foi umas das estrelas no arranque da fase de grupos da Liga dos Campeões. Ronaldo e Messi completaram hat-tricks mas, com apenas 21 anos, o veloz e entusiasmante egípcio apresentou-se como uma das maiores promessas em ação na prova.

O extremo do Basileia deu início à reviravolta no terreno do Chelsea (1-2), estragando a noite de Mourinho. Mas a história do jovem Salah tem outros contornos, demonstrações de apoio ao seu povo e uma ligação direta à tragédia de Port Said.

A 1 de fevereiro de 2012, adeptos do Al-Masry atacaram adeptos, jogadores e treinador do Al-Ahly. Manuel José incluído. Um balanço horrível: 79 mortes e um milhar de feridos.

As autoridades locais viriam a suspender o campeonato local, por falta de condições e tempo, já que as principais seleções (sub-23 e AA) tinham em vista os Jogos Olímpicos de 2012 e a qualificação para a Taça das Nações Africanas de 2013.

Mohamed Salah, então jogador dos Arab Contractors, integrou a seleção de sub-23 que partiu de imediato para a Suíça, onde tinha agendado um encontro particular com o Basileia.

O extremo começou o jogo no banco de suplentes mas precisou de apenas 45 minutos para dissipar eventuais dúvidas. O clube suíço já seguia Salah há alguns meses. Com dois golos na segunda parte e a vitória dos sub-23 egípcios (4-3), o jovem garantiu uma estadia no país.

O Basileia convidou Mohamed Salah para uma semana de treinos e, a 10 de abril de 2012, confirmou a sua contratação e a assinatura de um vínculo válido por quatro temporadas.

Na temporada 2011/12, Salah marcou 7 golos em 43 partidas. Dois deles na Liga Europa. Comprometeu as aspirações de André Villas-Boas, no 2-2 que ditou o afastamento do Tottenham, e despediu-se em Stamford Bridge.

Esta noite, marcou ao Chelsea mas o Basileia venceu. Na época passada, tinha perdido por 3-1. O seu golo serviu apenas como cartão de visita.

Pela Palestina contra Israel

Mohamed Salah promete explodir na presente temporada sem esquecer o seu berço. Aliás, a caminhada na Liga dos Campeões tem sido marcada por demonstrações de caráter político. Tudo começou na terceira pré-eliminatória, frente ao Maccabi Telaviv.

O egípcio terá simulado com problema com as chuteiras para evitar o tradicional aperto de mãos entre os jogadores das duas equipas. Apoiante da causa palestiniana, Salah hesitou mas acabou por viajar para o jogo da segunda mão, em Israel.

«Vou viajar mas é futebol, não política. Na minha mente, estarei a viajar para a Palestina, não para Israel. Vou marcar e ganhar lá».

Desta vez, o jogador apresentou-se para a troca de cumprimentos mas não apertou mãos israelitas. Ficou-se por um discreto toque com o punho fechado. Marcou, o Basileia empatou 3-3 e seguiu em frente.

No play-off, bisou frente ao Ludogorets sem festejar. Segundo ele, não fazia sentido celebrar quando o Egipto está a sofrer com a repressão e os ininterruptos conflitos. Esta noite, porém, não se conteve.

Ao minuto 71, no regresso a Stamford Brigde, iniciou a reviravolta frente ao Chelsea de Mourinho. A flor que brotou da tragédia de Port Said vai encantando a Europa do futebol. Cada vez mais.

Basileia incomoda que se farta

O Basileia vai reforçando o seu estatuto de outsider nas competições europeias. Incomoda que se farta.

Em 2010/11, no Grupo C da Liga dos Campeões, perdeu em casa com o Benfica, empatou no Estádio da Luz mas atirou o Manchester United para a Liga Europa.

No ano seguinte, o Basileia foi relegado para a Liga Europa mas estreou-se no Grupo G com um empate em Alvalade. Na Suíça, bateu o Sporting por 3-0. Leões no último lugar, suíços em frente.

A formação helvética chegou às meias-finais, depois de afastar o milionário Zenit e o Tottenham de Villas-Boas. O Chelsea travou a marcha. Hoje, o Basileia vingou-se.