* enviado-especial do Maisfutebol a Sevilha

Não existem muros da vergonha, nem forças separatistas. O que divide Sevilha é uma causa de amor e paixão. Metade da cidade é bética por devoção e tem o Benito Villamarín por altar-mor. A restante parte entrega o coração ao Bairro de Nérvion e vive em nome do Sevilha FC.

Ora, perante um cenário destes, o Maisfutebol foi procurar reforços de última hora para o FC Porto. E encontrou-os facilmente. Basta um passeio pela zona do estádio do Bétis e logo ensaiamos um coro de «Y viva el Oporto!».

Não estamos a falar de grupos radicais ou extremistas de coisa nenhuma. O adepto comum do Bétis sofre em nome da rivalidade histórica com o arqui-rival e vizinho. Por isso, na quinta-feira à noite «metade de Sevilha vai ser azul e branca».

«O meu irmão é do Sevilha, só pode ser bastardo»


Manolo Navarro é médico e sócio do Bétis há «mais de 30 anos». Trabalhou no Hospital de Faro e regressou à sua cidade recentemente. Juan Ramirez é advogado, veste fato, gravata e anda sempre com um cachecol do Bétis.

«Eu não quero só que o Porto ganhe, eu quero que o Porto goleie», diz-nos o primeiro, lamentando somente a ausência de Jackson Martinez. «O meu Bétis precisava de um tipo assim. O último jogo em casa [derrota com o Málaga por 1-2] deixou-me de rastos».

Ramirez vai um pouco mais longe. «Na minha família há pessoas dos dois clubes. Um irmão meu é do Sevilha. Só pode ser bastardo, digo-lhe sempre. Enfim, tenho de suportar. Gozamos um com o outro e este ano ele está por cima. Tenho de aguentar e desejar a vitória do Porto na Liga Europa».

O doutor Navarro, aliás, ainda engole em seco ao recordar a recente eliminação na Liga Europa. «O Bétis nasceu para sofrer, mas resiste. Vamos descer de divisão, seguramente, e tínhamos a UEFA como tábua de salvação. Nem isso aproveitamos», lamenta.

Perguntamos a ambos se há algum festejo preparado, caso o FC Porto elimine o Sevilha. As respostas, dadas separadamente, coincidem: «não, não temos nada, mas se isso acontecer vou para a rua aos berros». «E levo uma garrafa de champanhe», improvisa o advogado.

Ah, é importante lembrar que no próximo domingo há dérbi em Sevilha. O Bétis agoniza na luta pela permanência e o Sevilha defende o quinto lugar.