Bem-vindos à Liga como ela é. Com casos gigantes, com um pequeno a defender-se como pode em casa de um grande, e com discussões que perduram no futebol nacional, como a que vai percorrer a semana leonina. Wilson Eduardo, leãozinho da Academia, não teve espaço no plantel principal e chegou a Alvalade a provar que a política de investimento do Sporting talvez não necessitasse de descuidar totalmente o que se faz do lado de lá do Tejo. E não foi por falta de aviso. Já Izmailov desesperou e esperou uma época inteira, trabalhou cedo e chegou a tempo de salvar o Sporting de um começo ainda pior.

Aquele golo do avançado do Olhanense acabou com meia hora de sentido quase único do leão. Não foi brilhante, longe disso, mas foi melhor que muitas outras vistas nas duas últimas épocas, mesmo que o meio-campo proposto por Domingos Paciência tenha cometido pecados: Rinaudo, por exemplo, é um batalhador, mas vê-se que ainda tem muito do futebol argentino, num jeito de querer levar tudo à frente. O leão foi um pouco assim, teve vontade, mas muitas vezes não pensou no que fazia.

Um primeiro erro do árbitro

Vamos por partes: na defesa, as escolhas óbvias. Polga foi o melhor central da pré-temporada. Por isso, saltou para o onze, merecidamente. O resto, expectável. No meio-campo, havia dúvidas: Rinaudo, André Santos e Schaars pareciam dar equilíbrio. Mas onde andavam quando Wilson Eduardo se virou para a baliza e fez o 1-0?

Antes desse golo, houve jogo. Jeffren parecia que ia ter uma boa estreia na Liga, porque esteve em todas as jogadas de perigo do leão. Primeiro num livre, depois num canto que Polga atirou para fora, na área, e mesmo antes do 1-0 num trabalho espantoso a oferecer o golo ao 23 leonino. Pelo meio, mão de um algarvio na área do Sporting. Xistra mandou jogar, mas a dúvida fica sobre se foi deliberado ou não.

Depois, sim, o tal golo anunciado por Wilson Eduardo nas vésperas, num lance de inspiração, já depois de um aviso, o único, do Olhanense pela cabeça de Maurício. O Sporting metia-se num teste à capacidade psicológica e o primeiro a perder o discernimento foi mesmo Jeffren, com uma entrada violenta sobre Cauê. Viu o cartão amarelo. Foi pouco e deve sabê-lo. Esse também não foi o único erro do árbitro.

Izmailov a emendar Xistra

Mesmo a fechar o primeiro tempo, Postiga voltou a ter ocasião. Agora para o 1-1, de novo com a mesma pontaria que antes. O acerto ficou todo com as cores da selecção, pela qual tem média invejável. Mérito, no entanto, para um internacional sub-21 brasileiro, Fabiano Freitas, que foi vistoso na montra de Alvalade.

Vinha aí o segundo tempo, Domingos percebeu, por fim, que no meio-campo havia um problema. Tirou André Santos e lançou Izmailov. E o russo, em condições, raramente joga mal. É frio, calculista no olhar e certeiro nas chuteiras.

O Olhanense estava todo atrás, o técnico leonino baralhou e tornou a dar. Entrou Capel, entrou Rubio, o Sporting multiplicava-se em esquemas, em procura de si próprio também, para lá do melhor modo para o assalto final à baliza.

Por fim, o golo. Postiga pela direita a marcar, finalmente, para logo uma má decisão roubar o festejo ao 23 leonino. Já se sabe como Alvalade reage a estas coisas. Faltava saber como iria ser a reacção da equipa. O tal russo das chuteiras certeiras tanto insistiu que empatou mesmo a partida. Curiosamente, pelo mesmo lado que Faquirá tentava reforçar, assim que percebeu o que o novo 10 do Sporting andava a fazer.

Havia tempo para mais, o leão pressionou, tentou de longe, na área, Schaars desperdiçava nos descontos e o 1-1 deixa a ideia final: coração, este sporting tem. Mas precisa de mais ideias. Ou melhores, porque vai defrontar mais equipas como o Olhanense, daquelas que não se envergonham de jogar feio e marcar um golo em dois remates. Para o leão fica o aviso, haverá mais por aí.