São 15h30, em ponto, quando o treino do Paços começa. As chuvas de janeiro aconselham uma gestão parcimoniosa do relvado principal. É, assim, num campo secundário que Paulo Fonseca orienta a sessão de trabalho.

O Maisfutebol aguarda a chegada do presidente. Não muito. Ainda os jogadores correm num círculo pouco perfeito e já Carlos Barbosa se junta a nós. Atrás de uma das balizas, dois velhos e apaziguados bancos de suplentes (quantos nomes se terão ali sentado?) abrigam os adeptos diários. Indefetíveis.

«O que melhor descreve este clube?», perguntamos ao líder da direção pacense. «O Rigor. O rigor e o ambiente de família». A resposta sai de pronto, sem hesitações, certa de que já foi respondida outras vezes no passado.

E passamos a falar sobre o mercado de transferências. De que forma se processa a abordagem do Paços de Ferreira na hora de escolher jogadores? O clube tem 15 portugueses no plantel e contratou sete dos 11 reforços nos escalões secundários nacionais.

«Olhamos muito para a II Liga e II B. Financeiramente são mercados ao nosso alcance e acreditamos no grande valor de alguns jogadores que por lá andam. Não deixamos, porém, de estar atentos a jogadores estrangeiros. Tudo depende da garantia de qualidade e do preço», explica Carlos Barbosa.

Salários não passam os cinco mil euros

O teto salarial do clube ronda os cinco mil euros e o orçamento da época 2012/13 não ultrapassa os 3,5 milhões. O Paços de Ferreira tem os salários todos em dia e paga, não raras vezes, adiantados os prémios relativos aos objetivos desportivos atingidos.

Por tudo isto, como olha o clube para a preocupante situação financeira de outros emblemas?

«Há concorrência desleal. Isso é inequívoco», desabafa Carlos Barbosa.

«Às vezes queremos determinado jogador e não o conseguimos porque esse jogador recebe uma oferta absurda de um outro clube do nosso escalão. Prometem-lhes coisas impossíveis e depois não pagam. É uma luta antiga. Uma luta complicada», responde o dirigente.

E esta época surgiu um outro obstáculo. «As equipas B dos grandes tiram-nos vários jogadores que gostaríamos de ter. Ainda complica mais a formação do nosso plantel. Enfim, já descemos, já subimos e o rigor é sempre o mesmo, independentemente da direção. Todos os anos dizem que somos candidatos à descida».

Modernizar o estádio é um desejo antigo

Mesmo na altura de escolher o treinador da equipa principal o procedimento não muda. Paulo Fonseca chega à Mata Real da mesma forma que chegaram Paulo Sérgio e Rui Vitória: debaixo de um manto de anonimato.

«A forma de optar é simples. Olhamos com atenção para todas as divisões e tentamos perceber quem está a fazer um bom trabalho. Observamos essa equipa, a forma como joga e se comporta em campo. É importante que essa equipa jogue no sistema do Paços (4x3x3)», sublinha o presidente.

«Depois, a idade nunca é um preconceito. O Henrique Calisto tinha 58 anos e o Paulo Fonseca tem 39».

As coisas não podiam estar a correr melhor. O Paços de Ferreira é quarto classificado, a apenas um ponto do Sp. Braga. É quase impossível não sonhar com a Liga Europa. Será mesmo assim?

«Não queremos pensar nisso. No início da época apostamos na manutenção e nas taças. Quando garantirmos a permanência, poderemos mudar de objetivo. Não estamos obcecados por isso», assegura Carlos Barbosa, mais preocupado em renovar, assim que possível, o velho estádio.

«O projeto e a vontade existem há muitos anos. A conjuntura financeira atual não facilita essa obra. Sonhamos com uma boa venda extra ou o acesso à Liga dos Campeões. Se isso fosse possível, certamente teríamos a verba necessária para construir uma nova bancada».