É a prova de que este é um dos jogos grandes do futebol nacional: como os melhores derbies, também o Guimarães-Braga traz mais rivalidade que futebol, mais emoção que arte. Já se sabe como é, olha-se para o vizinho, sente-se a proximidade, acusa-se o ciúme e tudo fica mais grave.

No meio de tanta rivalidade vivida à flor da pele, o futebol perde espaço. O Guimarães marcou primeiro, é certo que sim, mas fê-lo por um detalhe: podia perfeitamente ter acontecido ao contrário. Neste caso o detalhe foi uma jogada bem delineada, um exemplo raro, que apanhou o Braga desprevenido.

Veja a ficha e as notas dos jogadores

João Paulo lançou em Faouzi, que estava para nem ser titular mas entrou no onze pela lesão de Urreta no aquecimento para a estreia: o marroquino trabalhou sobre Elderson e lançou Edgar, fora do alcance de Ewerthon. O brasileiro meteu por baixo das pernas de Quim e virou o jogo do avesso.

Até então o Sp. Braga estava ligeiramente por cima, pelo menos estava mais confortável com a bola e a partir daí procurava melhor as situações de remate. Hugo Viana começou muito bem, aliás, lançou Lima para um remate perigoso e colocou na cabeça de Ewerthon para uma ameaça de golo.

A figura Faouzi e o decisivo minuto 29

O V. Guimarães, por outro lado, acusava a classificação. Perante um adversário que podia chegar à liderança, a formação de Rui Vitória sentiu os fantasmas caírem em cima dela. Marcou quando pouco o fazia prever e mudou o jogo do avesso: até ao intervalo foi melhor e criou dúvida no Sp. Braga.

Mas este é um derby, lá está, não responde uma lógica óbvia. Continuou por isso mais empurrado do que bem jogado, mais emotivo do que bonito. No meio das perdas de bola, das saídas para o ataque, da electricidade que deixava a bola perto das balizas, sentia-se que tudo era possível: até mais um golo.

Tão iguais até nos números que explicam o jogo

Por isso não dava para sossegar. Leonardo Jardim tinha feito entrar Nuno Gomes para empurrar o adversário para trás, tornando perigosas as bolas na área, Rui Vitória reagiu com a entrada de João Alves para o lugar de Nuno Assis. Os treinadores tentavam colocar lógica no jogo.

Não dava, claro. E foi no meio da correria desenfreada que o Sp. Braga chegou ao golo: Alan bateu um livre, Paulo Vinicius respondeu de cabeça para o fundo da baliza. O empate, verdade seja dita, trouxe alguma justiça ao resultado, tornando pelo menos isso lógico e linear: tudo o resto foi derby.

Derby, aliás, até ao último fôlego, até ao último remate, até ao último apito. Intenso, intenso, intenso. O Sp. Braga falhou portanto o assalto à liderança, mas mantém-se perto do topo, a dois pontos de Porto e Benfica. O V. Guimarães, por outro lado, respira melhor. Bem o merecem: o jogo valeu muito a pena.