Sem triunfos não há bom futebol que resista. No futebol, as vitórias morais não dão pontos. No fundo, elas funcionam como um bom make up. Agradável às primeiras vistas, mas que não dura para sempre. No dia seguinte, pela manhã, não há volta a dar. A verdade vem sempre ao de cima. E, no mundo da bola, não há perfume que resista à ditadura da classificação.
 
Os números recentes não mentem. Este Vitória é bom de bola. As arrancadas de Arnold e os momentos de génio de Suk empolgam os adeptos. Uma vitória nos seis jogos anteriores da Liga era, no entanto, pouco para o que os sadinos tinham produzido neste primeiro mês e meio de campeonato.
 
O problema está diagnosticado quase desde o primeiro dia e é comprovado pelos números. É que se os sadinos eram, à entrada da 7.ª jornada, a equipa da Liga com o segundo melhor ataque (13 golos), também eram a terceira com a pior defesa (12 tentos encaixados).
 
Encontrar o equilíbrio certo entre a vertigem ofensiva e a coesão defensiva era (e não deixou de ser) um dos objetivos do conjunto orientado por Quim Machado a curto prazo.
 
E a verdade é que esta sexta-feira, diante do Estoril, a equipa sadina aguentou-se sem sofrer golos, algo que não acontecia desde a segunda jornada (vitória por 4-0 sobre a Académica, em Coimbra), e acabou por somar o primeiro triunfo na condição de visitada.

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Com três triunfos seguidos na Liga, o Estoril chegava ao Bonfim com a rara possibilidade de, em caso de vitória, dormir pelo menos duas noites no topo do campeonato. A equipa de Fabiano Soares foi o que costuma ser. Organizada e adulta, mas mostrou-se pouco ambiciosa e acabou castigada pelo pontapé vitorioso de André Claro.
 
Não foi uma noite de futebol bonito. Muitos passes falhados, nervosismo em alta e poucas oportunidades de golo, principalmente nos primeiros 45 minutos.
 
A primeira parte resume-se a duas jogadas de perigo da parte do Estoril (Afonso Taira e Leo Bonatini) e a uma dos sadinos, num cabeceamento de Suk ao poste já perto dos descontos. Pelo meio, um erro de João Capela aos 34 minutos, ao não assinalar uma grande penalidade por derruba de Mano a Arnold, mas muito pouco para quem está habituado à montanha-russa de emoções que tem caraterizado os jogos no Bonfim esta temporada.
 
Sem o «abre-latas» Gerso (de fora por lesão), faltava criatividade ao ataque do Estoril, que só pareceu verdadeiramente acordado após o golo dos sadinos, que chegou aos 51 minutos num erro de Kieszek.
 
O guarda-redes do Estoril defendeu para a frente um remate aparentemente inofensivo de Suk e André Claro aproveitou para fazer o golo. Era o premiar da boa leitura de jogo feita por Quim Machado, que ao intervalo lançou Fábio Pacheco para o lugar de Ruca.

No fundo, deu ao Vitória aquilo que lhe faltou em toda a primeira parte. Capacidade de pressão na saída da equipa da linha. O resto surge quase automaticamente. Ganham-se metros e tira-se tempo ao adversário para decidir.

DESTAQUES DO JOGO

Na tentativa de mudar o guião da partida, Fabiano Soares mexeu. Primeiro lançou Billal; pouco depois, chamou para o jogo Luiz Phellype. O Estoril subiu e assustou os sadinos. Aos 67’, Luiz Phellype e Bruno César quase empataram num assalto à área sadina que se intensificou nos últimos dez minutos.

Nervosos, os homens mais recuados da equipa de Quim Machado lá conseguiram segurar, com o coração, os três pontos.

Ao quarto jogo em casa, o Vitória foi capaz de vencer no Bonfim, depois de três empates a dois golos. Talvez no jogo em que menos empolgou lá na frente, mas em que esteve mais seguro no plano defensivo.

O crescimento das equipas também se faz disto.

Quanto ao Estoril, pouco fez para justificar a honra de ser líder nas próximas 48 horas e só pareceu verdadeiramente interessado nisso quando já era tarde.