Campeoníssimo! Assim mesmo, num superlativo, pois tanto vermelho deu o Benfica a este campeonato. A onda encarnada que varreu o país desde Agosto rebentou na Luz, com o estrondo do 32º título do Benfica e com o coração do povo a bater forte de tanta ilusão, de tamanha conquista. A incerteza parecia durar tanto quanto uma estrela cadente. Virou sofrimento, tensão, mas a tarde/noite foi para uma constelação que entrou no mesmo céu de outros imortais encarnados. Um campeão é sempre um campeão, mas este Benfica é mais que outros da própria história.

Dezanove anos depois, os encarnados voltam a ter um rei dos goleadores, décadas volvidas e uma dupla de centrais fica na memória dos adeptos para todo o sempre. Há ainda Pablo Aimar, Saviola; há muito Di María e Fábio Coentrão, para além de Javi García, neste domingo todos eles longe do relvado, mas muito dentro do coração deste Benfica conquistador, arrebatador, com bom futebol. Esta é muito mais que uma equipa vencedora. É, dizem os números, uma formação histórica.

Recorde o AO MINUTO

Antes do encontro recordavam-se momentos do campeonato. O golo tardio de Ramires em Guimarães, a penalidade falhada por Cardozo, no último minuto, no Bonfim. E é bom começar por aí. O Tacuara entrava para a decisão do título na luta pela coroa dos goleadores e, com três minutos no encontro, igualou o rival Falcao. Mais do que isso, desanuviou a tensão acumulada nas bancadas. Ela voltaria, mas, lá para frente, o paraguaio, um campeão do esforço, voltaria a descansar os hipertensos.

O 1-0 deixou o Benfica à porta do título; a expulsão de Wires, num lance com Ramires, aumentava as probabilidades dos festejos na Luz. Os encarnados entraram a carregar, para fazer jus ao slogan que acompanhou a campanha das águias ao longo da temporada. Cardozo, outra vez, Saviola ou Airton podiam ter afastado de vez o sofrimento. Tinham-se poupado algumas unhas, teriam, certamente, tranquilizado Jorge Jesus, o terceiro treinador português a sagrar-se campeão pelo clube.

Mas por vezes Carlos, outras vezes a ineficácia benfiquista fez com que a vantagem, ao descanso (descanso, qual quê?), fosse mínima. O Rio Ave era digno vencido, por esta altura, e ia justificar essa dignidade no segundo tempo, depois de assustar Quim, com Bruno Gama em destaque, no primeiro tempo.

Liberte-se a tensão, saltem as rolhas

A primeira explosão de alegria na segunda parte veio da Madeira. Mas era na Luz que tudo se decidia, até porque o Sp. Braga, pouco depois do golo do Nacional, empatava a partida. Para deixar o país de boca aberta e a nação benfiquista em espanto, Ricardo Chaves fazia o mesmo, numa bola parada.

O 1-1 sentia-se no estádio. E sentia-se é a palavra certa, porque era indisfarçável a tensão, a atmosfera densa, patente também nos gestos dos futebolistas. Só que o espírito e a alma de campeão vivem na Luz, apesar de épocas recentes sombrias. O público encarnado jogou a cartada, empurrou a equipa e Cardozo apontou o golo mais ansiado de todos.

O golo do título, um golo gritado das bancadas até às fundações de um estádio que parecia aparição do antigo. Soltou-se a tensão, soltaram-se gargantas, soltou-se o champanhe para uma equipa que foi primeira na tabela, primeira na defesa, primeira no ataque. E é por este último aspecto que merece ser recordada. É por ele que atinge a glória.