Dias felizes, enfim, em que se acorda com um domingo à frente, esticam-se os braços, abre-se o sorriso e olha-se para a página em branco que pede para ser preenchida com a história que quisermos escrever.
E nós enchemo-los, ao domingo e à página, de futebol apaixonado: e irracional, como são todas as paixões.
Enchemo-los de azul, verde, vermelho ou amarelo. Enchemo-los de amizade. Enchemo-los de sonho, fé e romaria. Enchemo-los de grandes jogadas. Golos, gritos e heróis. Naquele estádio que é a nossa casa e onde nos sentimos em casa. Ao lado dos amigos que são quase família.
Enchemo-los de Sporting, Porto, Benfica, Vitória, Beira Mar ou Gil Vicente.
Da bancada de imprensa, com o computador entre mim e o relvado, vejo-os chegar. Sozinhos ou em grupo, em cima do jogo ou com uma hora de antecedência. Vejo-os partir, às vezes felizes, às vezes tristes. Tento lembrar-me do que era ser adepto e sinto a falta daquela paixão vertiginosa.
A paixão que só sente quando o futebol é comungado num estádio cheio de eu, tu, ele, e todos juntos somos nós.
Duas horas depois encontro-os nos restaurantes. Entre uma carne assada e um copo cheio. Bebem cerveja e brindam à vida. Para mim foi só mais um domingo. Para eles foi um domingo bem passado. Ou como escreveu Miguel Esteves Cardoso, um dia de domingo antigo: de prazer sem saber.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol. Siga-o no twitter.
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